O derretimento do preço do petróleo vai testar a capacidade da gestão da Petrobras para manter a saúde financeira da empresa ao mesmo tempo em que atende à demanda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para atuar como um motor do crescimento econômico.
Na semana passada, ao divulgar o balanço do primeiro trimestre de 2025, a presidente da estatal, Magda Chambriard, afirmou que “é hora de apertar os cintos”. Disse que a empresa não suspenderá projetos, mas prometeu uma gestão mais austera.
A fala não caiu bem em sindicatos que apoiaram tanto a eleição de Lula quanto a nomeação de Magda em substituição a Jean Paul Prates no comando da estatal e veem contradição entre a promessa de austeridade e a distribuição de R$ 11,7 bilhões em dividendos pela companhia.
A fórmula para o cálculo dos dividendos está ligada à geração de caixa, a gestão da estatal não tem muita margem de manobra nesse sentido. A aceleração do investimento reduziria o dividendo, sim, mas com algum impacto na atratividade da companhia e no caixa do próprio governo.
Há alguma margem para elevar o endividamento, já que o indicador de dívida está abaixo do teto. Mas o histórico da empresa demanda cautela: a Petrobras se tornou nos anos 2010 a petroleira mais endividada do mundo, o que lhe trouxe sérios problemas durante o ciclo de queda do petróleo em meados daquela década.
A situação, portanto, já não é tão confortável como quando Lula assumiu, com petróleo cerca de US$ 20 por barril mais caro do que o atual e a perspectiva de manter elevados tanto os investimentos quanto os dividendos pagos aos acionistas.
Projeções do mercado apontam que o petróleo permanecerá na casa dos US$ 60 por algum tempo. Uma gestão austera nesse cenário demandaria olhar com lupa todos os gastos da companhia, incluindo as desejadas obras em refinarias, petroquímicas e fertilizantes, e suas cerimônias com imagens de Lula em meio aos trabalhadores que se encaixariam perfeitamente na campanha à reeleição.
Fonte ==> Folha SP