20 de março de 2025

Jeanne Moreau bebia batida em Alagoas – 23/01/2025 – Daniel de Mesquita Benevides

Jeanne Moreau bebia batida em Alagoas - 23/01/2025 - Daniel de Mesquita Benevides

“Representar não é a realidade – é mais cruel que a realidade. É um ato de crueldade que o ator inflige a si mesmo. Essa crueldade tem a ver com a lucidez e isso é muito temível”declarou, certa vez, a atriz Jeanne Moreau (23 de janeiro de 1928 – 2017).

Em 1957, Boris Vian apresentou seu amigo Miles Davis a ela. Moreau tinha acabado de filmar “Ascensor para o Cadafalso“, de Louis Malle, seu primeiro papel importante no cinema. Sugeriu ao trompetista que ele visse algumas cenas. Davis já conhecia Malle e o filme. Num ímpeto, disse “vamos ao estúdio gravar alguma coisa!”. Ficaram tocando até o sol raiar e terminaram a trilha sonora cult. Ao longo da noite, a atriz ficou encarregada de servir os drinques à rapaziada, combustível essencial para a empreitada.

Que drinques seriam esses? Moreau os preparava também? Seu pai, afinal, fora barman (a mãe, uma bailarina britânica). Imagine a diva de “Jules e Jim” nesse bar improvisado, mexendo dry martinis com o dedo, de forma deliciosamente displicente. E dando goles de cada taça que preparava. A propósito, haveria taças no estúdio? Ou seriam copos de papel? Estando em Paris, o mais provável é que bebessem vinho ou um aperitivo como pastis, com forte gosto de anis. Não custa sonhar.

Há um momento no filme de encontro puro da imagem e da música. Moreau caminha pela noite de Paris. A câmera acompanha seu rosto. O trompete de Miles se insinua e parece acariciar a atriz. Ela atravessa, indiferente, uma avenida. Os carros cruzam seu caminho, como luzes fugidias no quadro preto e branco. Mesmo com ar perdido, seus olhos são resolutos, a boca sensual e determinada.

Duas fotos icônicas surgiram do encontro Moreau/Miles. Numa delas, ele tenta ensinar ela a tocar. Desarmada, Moreau assopra o trompete e Miles assopra alguma dica em seu ouvido. Na outra, ela tira o cabelo de cima da orelha e deixa que ele encoste o trompete, como se tocasse exclusivamente para ela. Ainda que Miles estivesse saindo com Juliette Gréco, há uma clara tensão sexual nas imagens.

Moreau, que também era cantora, veio ao menos duas vezes ao Brasil, quando conheceu Chico, Caetano e Milton. Em 2009, aos 81, esteve no Festival do Rio de Cinema. E numa entrevista, falou sobre as filmagens de “Joana, a Francesa” (1973), de Cacá Diegues, do qual foi protagonista: “Tenho lembranças vagas. Lembro mais dos acontecimentos fora do set. Logo que cheguei, me levaram em um lugar onde conheci um drinque chamado batida. Eu não tinha ideia do que era, não sabia que era alcoólico. E era tão bom, que fiquei bêbada antes mesmo de poder perceber.”

Que batida seria essa? O filme foi rodado em União dos Palmares, Alagoas. A música é de Chico e Roberto Menescal, cantada por Nara Leão, Fágner e a própria Moreau. Ela faz o papel de uma dona de bordel em São Paulo que é convencida por um tal Coronel a ir para Alagoas. A canção-título traz na letra “tu as le parfum de cachaça e suor”. A cachaça da batida. As frutas típicas de Alagoas são mangaba, cajá e graviola.

BATIDA DE MANGABA

60 ml de cachaça

30 ml de leite condensado

60 ml de suco de mangaba

Bata os ingredientes com gelo e coe para um copo Collins com gelo.



Fonte ==> Folha SP

Leia Também

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *