Foram mais de 80 horas de espera. O Brasil acompanhou de perto a tentativa de resgate da publicitária Juliana Marins, que despencou 600 metros durante uma trilha feita com um grupo de turistas. Isso após ser deixada para trás pelo guia.
Ela também foi abandonada pelas autoridades indonésias e brasileiras, que só se mobilizaram para o resgate após intensa pressão da família e de amigos.
Poucas horas antes da tragédia, Juliana postou fotos celebrando a vida. Ela já havia passado pelas Filipinas, Tailândia e Vietnã. Em uma de suas legendas, escreveu: “nunca me senti tão viva”.
Juliana era publicitária, atuava na área de comunicação e voluntária em projetos sociais voltados ao combate à pobreza. Também era corredora, praticante de pole dance e frequentadora entusiasmada dos blocos de Carnaval. Ainda muito jovem, já ocupava espaços que, até pouco tempo, eram negados às mulheres, especialmente às negras. Quis mais e foi ocupar o mundo.
Seu falecimento é devastador para os pais, seus familiares e amigos. E também é uma pequena morte para todas as mulheres que, um dia, colocaram uma mochila nas costas e partiram sozinhas pelo mundo. Um gesto de liberdade que, até hoje, tentam impedir que elas exerçam.
São mulheres corajosas, que recusam uma existência moldada pela obediência e escolhem viver sob suas próprias regras. Sabem que viajar sozinhas não é estar só, mas acompanhadas das pessoas e histórias que surgem pelo caminho.
São aquelas que, mesmo com orçamento apertado, juntam cada centavo. Se hospedam em casas de locais, não só por economia, mas para mergulhar na cultura de verdade. Elas sabem que explorar o mundo é o maior dos investimentos. E a liberdade delas incomoda. Basta ver os comentários nas redes sociais responsabilizando a vítima pela tragédia. “Ninguém mandou”, como sempre nos dizem.
Como Juliana, viajei sozinha pela Ásia, tirei certificado de mergulho na Tailândia e fiz trilhas pelas montanhas acampando com um grupo e um guia. A viajante que mora em mim também caiu daquele precipício. Ver Juliana deixada para trás é um lembrete brutal: não há lugar verdadeiramente seguro para uma mulher que ousa ser livre.
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Fonte ==> Folha SP