O juiz Guilherme Bubolz Bohm anulou nesta terça-feira 1º um ato da Câmara Municipal de Rio Largo (AL), na região metropolitana de Maceió, em que foram lidas cartas de renúncia supostamente assinadas pelo prefeito Carlos Gonçalves e por seu vice, Peterson Henrique, ambos do PP.
Na segunda-feira 31, o presidente da Câmara, Rogério Silva (PP), tomou posse como prefeito de forma interina após a leitura das cartas. Nelas, os supostos autores da renúncia alegavam “questões pessoais” para deixar os cargos. Os documentos, contudo, eram falsos, segundo Carlos e seu vice.
Ao acionar a Justiça, Carlos Gonçalves anexou um boletim de ocorrência registrado em 19 de março no qual relatou duas tentativas de autenticação de assinatura em seu nome em cartórios de Rio Largo e de Porto Calvo, uma cidade vizinha. O juiz acatou os argumentos e deu dez dias para a Câmara prestar informações sobre o caso.
O magistrado ainda apontou indícios de falsidade ideológica nas cartas e afirmou que os supostos termos de renúncia são “documentos simplórios que, em três linhas, limitam-se a comunicar renúncia irretratável aos mandatos eletivos de prefeito e vice”. Silva não respondeu aos contatos da reportagem para comentar a liminar. O espaço segue aberto.
“Neles não consta timbre oficial, tampouco justificativas ou reconhecimentos de firmas. Além disso, percebe-se, mesmo sem conhecimento técnico, que as canetas utilizadas para assinar e para datar os documentos são diversas. A data não foi preenchida com a mesma caneta utilizada para fazer a assinatura, haja vista a diferença de tons de tinta e, inclusive, de caligrafia.”
O caso em Rio Largo tem como pano de fundo o rompimento político entre Carlos e seu antecessor, correligionário e tio Gilberto Gonçalves, conhecido no estado como GG.
A crise começou após o prefeito romper com o grupo do tio e se aproximar do senador Renan Calheiros, do MDB, rival do ex-presidente da Câmara Arthur Lira, do PP. Carlos venceu a eleição do ano passado com mais de 60% dos votos com as bençãos de GG, um dos principais caciques do partido em Alagoas.
Há duas semanas, um desentendimento público entre os dois viralizou nas redes sociais e expôs o grau de distanciamento. Na gravação, realizada durante um evento alusivo ao Dia Internacional das Mulheres, o ex-prefeito cobrava o sobrinho. “Quem colocou você aí fui eu”, disse GG.
Em resposta, após tomar o microfone para se pronunciar, Carlos reclamou de que o ex-prefeito o considera fraco para se manter no cargo: “Não sou ingrato nem traidor. Reconheço o seu trabalho, tio, mas quem votou em mim foi o povo de Rio Largo. Fui eleito com 32.496 votos. Até 31 de dezembro de 2028, jamais vocês vão me ver renunciar ao mandato”.
Nos últimos dias, GG teria anunciado que estava em posse de uma carta-renúncia do prefeito e do vice, dizendo que ela seria apresentada à Câmara. Depois disso, o prefeito passou a andar sob escolta policial em razão de ameaças que teria recebido para abandonar o cargo.
Fonte ==> Casa Branca