A vida, com sua crueza e beleza, nos lança constantemente nesse jogo paradoxal: nos derruba, mas também nos desafia e oportuna à superação Perdas e decepções: é possível reconstruir a vida? Quando escolhemos olhar adiante e reencontrar novos propósitos.
“O SENHOR disse a Abrão, depois que Ló se separou dele:
― Daí onde você está, levante os olhos para o norte, para o sul, para o leste e para o oeste: toda a terra que você está vendo darei a você e à sua descendência para sempre. Tornarei a sua descendência como o pó da terra. Se alguém pudesse contar o pó da terra, também poderia contar a sua descendência. Vá! Percorra esta terra de alto a baixo, de um lado a outro, porque eu a darei a você.” (Gênesis 13.14-17)
Henry Ford dizia que problema é tudo aquilo que vemos quando tiramos os olhos do alvo.
O sofrimento é evitável? Nossas atitudes podem ser decisivas na prevenção de conflitos e dores
Semente ou fruto: é preciso entender o valor de cada etapa da vida
Abraão, já idoso, quase octogenário, experimenta uma dor que atravessa gerações: a traição vinda de quem se ama.
Seu sobrinho Ló, criado como um filho, escolheu caminhos gananciosos, distantes da integridade e do afeto. A separação foi inevitável — emocional e geográfica.
Abraão, com o coração ferido, estava arrasado, possivelmente deprimido, paralisado pela desesperança.
É nesse cenário de desolação que Deus se aproxima com um convite que me emociona todas as vezes que leio:
“…Daí onde você está, levante os olhos para o norte, para o sul, para o leste e para o oeste: toda a terra que você está vendo darei a você e à sua descendência para sempre…”
Não há como viver sem percalços, perdas e decepções, mas a vida – mostra Deus – está sempre nos apresentando novas oportunidades!
A vida, com sua crueza e beleza, nos lança constantemente nesse jogo paradoxal: nos derruba, mas também nos desafia e oportuna à superação.
As dores mais profundas são, quase sempre, provocadas por aqueles que jamais imaginaríamos nos machucar. Feridas assim tocam a alma, nos lançam nas profundezas obscuras da alma, fazendo-nos dar as costas à vida.
É nesse lugar sombrio que muitos relacionamentos se encontram, quando chegam até mim: totalmente esgotados e desesperançados, com o olhar fito no vazio gélido e escuro.
Entretanto, se a vida permitiu desalento, a mesma vida nos sacode, nos olha de frente e como um incalculável empuxo, nos arremessa de novo ao “jogo” ao dizer claro e alto: Levanta os olhos!
Esse é um movimento psíquico. Vem do profundo do ser em busca de conciliação consigo mesmo, na retomada do sonho quase comprometido pelo trauma ocorrido.
Carl Jung defende que a psique busca total inteireza, uma espécie de defesa da pureza do Ser, e mesmo frente a experiências indesejadas e frustrantes, elas não só não conseguem impedir essa inteireza, bem como podem ser verdadeiras sinaleiras a reorientarem o caminho, no constante processo de nos tornarmos quem, de fato, queremos ser.
Henry Ford e Abraão se encontram sob a mesma sorte: Cada um, à sua maneira. Foram confrontados com um dilema: deixar tragar-se pela dor, ou ressignificá-la.
Ford, ao perseguir o sonho de fundar uma montadora que mudaria o mundo. Abraão, ao aceitar o desafio de ser pai de uma nação. Nenhum dos dois teria alcançado seus destinos se não tivessem, antes, levantado os olhos.
No consultório, vejo muitos relacionamentos sofridos e até mesmo interrompidos, mas não pela falta de amor, mas pela ausência de visão. Deixam de ver um ao outro, deixam de enxergar o propósito. E, às vezes, tudo o que precisam é de estímulo para que se encorajem a levantar os olhos.
Não é fácil. O medo, a mágoa, a frustração gritam alto. Mas a vida, que açoita, também encoraja. Ela nos provoca com oportunidades inesperadas, com novos mares a serem singrados.
Abraão aceitou o desafio divino, levantou os olhos, e seguiu em frente!
E você?
Vai ou não levantar os olhos e olhar ao redor e vislumbrar as múltiplas possibilidades que estão ao seu redor?
Fonte ==> Folha SP e Globo
