1 de dezembro de 2025

LGPD, contratos e governança o novo perfil da advocacia empresarial na era dos dados

A advocacia empresarial brasileira vive uma das maiores transformações de sua história. A combinação entre ambiente regulatório mais rígido, expansão digital acelerada e aumento da complexidade nas relações corporativas exige dos profissionais uma atuação cada vez mais técnica, preventiva e orientada por governança. Em meio a esse cenário, o advogado deixou de ser acionado apenas em conflitos e passou a ocupar papel estratégico dentro das empresas.

A entrada em vigor da Lei Geral de Proteção de Dados consolidou esse movimento. Organizações de todos os portes tiveram de revisar contratos, atualizar políticas internas, adotar padrões de compliance e, sobretudo, estruturar um jurídico capaz de dialogar com tecnologia, gestão e risco. Para a advogada Walkiria Ângela Vitorino Syllos, que atua há mais de duas décadas com jurídico empresarial e projetos de adequação à LGPD, a lei trouxe a necessidade de uma postura mais técnica e estruturada. Ela destaca que a adequação exige mapeamento de fluxos, análise contratual rigorosa e construção de processos que envolvem diferentes setores da organização.

A proteção de dados não é o único ponto que pressiona mudanças internas. Cresce também a demanda por contratos inteligentes, sistemas de compliance e auditorias internas que acompanhem a velocidade do mercado digital. Áreas como licitações, relações de consumo e direito trabalhista exigem uma integração mais eficiente entre jurídico e gestão administrativa. Segundo especialistas, empresas que estruturam departamentos completos de contratos, compliance e análise de riscos apresentam maior previsibilidade operacional e reduzem custos decorrentes de litígios.

A governança contratual é outro fator que fortalece a atuação do advogado corporativo moderno. Para Walkiria, que implantou sistemas de gestão jurídica e CRM contratual em empresas de tecnologia ainda nos anos 2000, a organização documental é o ponto de partida para um jurídico preventivo eficaz. Ela explica que a prática evita perdas financeiras, melhora o relacionamento com fornecedores e reduz judicializações. A experiência de auditoria interna em padrões ISO 9001 também contribuiu para sua visão sobre processos internos e qualidade corporativa.

Além das adequações regulatórias, a advocacia empresarial tem sido impulsionada pela necessidade de prevenir conflitos. A mediação, por exemplo, ganha força como ferramenta eficaz para resolver disputas de forma rápida e menos onerosa. Walkiria atuou por três anos no Tribunal de Justiça de São Paulo como mediadora voluntária, experiência que reforça a importância do diálogo estruturado dentro de ambientes empresariais. A cultura de mediação e acordos tende a crescer, especialmente entre empresas que já adotam programas de compliance e políticas internas de conduta.

A crescente profissionalização do jurídico nas empresas também reflete um mercado mais exigente. Clientes corporativos buscam advogados com perfil multidisciplinar, capazes de trabalhar ao lado de equipes de tecnologia, gestores de projetos e profissionais de auditoria. A segurança jurídica se tornou diferencial competitivo em setores como tecnologia, saúde, telecomunicações e comércio eletrônico. Em condomínios e associações, outro nicho em expansão, a LGPD tem exigido adequações específicas que envolvem governança, gestão de documentos e treinamentos.

Walkiria Syllos

Os especialistas concordam que a advocacia empresarial caminha para um modelo integrado, baseado em prevenção, governança e gestão de riscos. Os escritórios precisam oferecer soluções completas que entreguem não apenas representação judicial, mas diagnósticos internos, revisão de políticas e suporte consultivo contínuo. A digitalização do Direito também avança com plataformas de gestão processual, assinaturas eletrônicas, reuniões remotas e novas formas de interação jurídica.

No centro dessa transformação está o profissional que une técnica jurídica, capacidade de análise e visão administrativa. A advogada Walkiria Syllos enxerga essa mudança como positiva e necessária. Ela afirma que o advogado empresarial atual precisa dominar contratos, entender processos, acompanhar regulamentações e ter sensibilidade para orientar clientes diante de riscos e oportunidades. A interseção entre Direito, gestão e tecnologia é, segundo ela, o caminho natural da profissão.

A advocacia empresarial, portanto, vive um novo capítulo. Em um ambiente de dados, compliance e regulação constante, o advogado deixa de ser um solucionador de problemas e se torna um arquiteto de segurança jurídica. Mais do que nunca, as empresas precisam de orientação técnica sólida, ferramentas modernas e uma visão preventiva que garanta sustentabilidade e crescimento.

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