15 de outubro de 2025

Liberalismo primário cristão – 15/10/2025 – Deirdre Nansen McCloskey

A imagem mostra uma pessoa de costas, tirando uma foto de um mural coberto com várias mensagens escritas à mão. O mural contém frases e desenhos coloridos, incluindo a pergunta

Escrevi um livro que tenta responder à opinião, amplamente compartilhada por pessoas razoáveis, de que uma economia “capitalista” corrompe a alma e não serve a propósitos cristãos. O título em português seria “O liberal primário e piedoso: teologia pública para uma era de inovismo”. Seu leitor implícito é um crente protestante sofisticado e progressista —meu tipo de pessoa, a maioria das quais odeia o “capitalismo”.

Não me importaria ter leitores evangélicos ou católicos, mas muitos são mais sensatos em relação à economia que os intelectuais de esquerda com quem convivo na igreja. Evangélicos de direita costumam ser pró-capitalistas. E a doutrina social católica não é contra a propriedade privada, mas contra o socialismo.

É verdade que a atmosfera da teologia da libertação com a qual o papa argentino cresceu ia no sentido contrário. Gostaria que eles também ouvissem. E meus amigos ateus, liberais primários, acham que a teologia é totalmente irrelevante para a economia de livre mercado. Errado novamente.

Meus argumentos parecerão estranhos à maioria de vocês, tanto ao cristão de esquerda, que defende mais ação estatal e erra em economia, quanto ao liberal primário —aquele de 1776/1789—, que erra em teologia. Ambos ficarão irritados.

Como um amigo apontou: “Por que alguém gastaria US$ 30 num livro que diz que ele está gravemente enganado em suas opiniões mais queridas?”. Essa certamente é a deficiência inicial da minha tentativa de convencê-lo sobre um cristianismo liberal primário e um liberalismo primário cristão. Mas a deficiência pode, em longo prazo, ser seu mérito.

Não seria sensato, pergunto aos companheiros cristãos de mente aberta mas antieconômicos, serem gentilmente, embora persistentemente, contestados em suas opiniões sobre economia que vocês talvez não tenham considerado tão profundamente —e até mesmo sobre algumas opiniões relacionadas à economia na teologia?

E pergunto aos meus amigos ateus no liberalismo primário: não seria sensato refrear o julgamento sobre a relevância da teologia para a economia até que vocês realmente saibam um pouco sobre… teologia?

Eu afirmo, por exemplo, que a liberdade da vontade, que algumas teologias defendem, se encaixa facilmente na liberdade nos mercados. Afirmo que a ajuda aos pobres, que toda teologia defende, é mais bem executada com o liberalismo primário —não o falso liberalismo secundário de 1848, que inspirou o socialismo e o chamado “novo” liberalismo”.

O liberalismo primário de 1776/1789 dizia: “Nenhum senhor exceto Deus”. O acréscimo de 1848 foi “Nenhum pobre, por meio de um Estado senhorial”. Ele estava muito disposto a abrir mão do programa “Nenhum senhor para nenhum pobre” —programa que, infelizmente, fracassou e nos deixou com novos senhores.

Os dois liberalismos são diferentes em termos econômicos, políticos e também teológicos. Um eleva a dignidade dos humanos perante Deus, imago Dei. O outro descarta isso em favor da hierarquia, tornando-nos escravos obedientes de outras pessoas, não de Deus.

Está difícil vender meu adorável livro. Devido ao próprio problema que tento resolver: muitos teólogos odeiam economia e muitos economistas odeiam teologia. Como disse o amigo, quem vai pagar US$ 30?



Fonte ==> Folha SP

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