Uma das coisas que mais une mães do Brasil inteiro, independente de religião, classe e orientação ideológica, é a indignação contra as desigualdades do mercado de trabalho.
De acordo com dados do 1º Relatório Nacional de Transparência Salarial e de Critérios Remuneratórios, publicado há um ano pelos ministérios do Trabalho e Emprego e das Mulheres, as brasileiras ganham 19,4% a menos que os homens.
O relatório aponta que os principais critérios adotados pelas empresas para o avanço da carreira prejudicam justamente as mulheres que são mães. Afinal, horas extras, disponibilidade para o trabalho, metas de produção, entre outras formas de avaliação, são atingidas mais pelos homens, que, em geral, não têm interrupção no tempo de trabalho devido à carga associada à maternidade.
Tal realidade pode ser constatada a partir dos dados de outro estudo do governo, intitulado “Ser Mãe é Padecer no Paraíso? Penalidades do Trabalho de Cuidados nas Trajetórias Laborais de Mulheres com Filhos na Primeira Infância”.
Realizado em 2024 pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), o levantamento aponta que as mães brasileiras têm, em média, 20% menos chance de estarem trabalhando do que os pais após o nascimento da criança. Cenário ainda pior entre famílias mais pobres.
E o impacto da maternidade na trajetória profissional é de longa duração. Ainda que seja mais intenso no primeiro ano, quando a penalidade materna chega a 27%, o prejuízo continua incidindo por dez anos, quando atinge 13%.
O estigma da maternidade também aparece entre cargos de liderança. A Fundação Getúlio Vargas (FGV) e a consultoria Mercer publicaram em 2022 o estudo “Mulheres na Liderança: Desafios e Oportunidades”. Os dados revelam que apenas 18% das mulheres em cargos de liderança possuem filhos, em comparação com 35% dos homens que ocupam posições semelhantes.
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Porém a maioria das empresas não possui estratégias para lidar com essa realidade.
Ainda de acordo com o 1º Relatório Nacional de Transparência Salarial e de Critérios Remuneratórios, as empresas que adotam políticas como de flexibilização de regime de trabalho para apoio à parentalidade são menos da metade, 39,7%. Já aquelas que possuem políticas de auxílio-creche somam 21,4%, e empresas que possuem políticas de licença maternidade/paternidade estendida são apenas 17,7%.
A falta de engajamento da maioria das empresas se comprova com dados da plataforma de empregos Catho. Em pesquisa recente, a Catho destaca que 63,3% das empresas brasileiras não possuem programas de inclusão, capacitação ou reconhecimento voltado para mães ou gestantes. Além disso, 36,9% das pessoas afirmaram que já testemunharam a resistência à contração e promoção de mães e gestantes dentro das empresas.
Não à toa, quase a totalidade das mães entrevistadas pela pesquisa “Mulheres em Diálogo”, publicada pelo Instituto Update neste ano, 91%, afirmam que salários iguais para funções equivalentes são um direito fundamental.
Discursos bonitos, flores e mimos não substituem políticas e ações reais. Dados não faltam para apontar que a melhor forma de celebrar o Dia das Mães é com melhores condições de trabalho.
Fonte ==> Folha SP