26 de junho de 2025

Mais de 1,5 mil eletricitários de MG protestam contra desmonte de plano de saúde da Cemig

Mais de 1,5 mil trabalhadores da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) foram à Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) na manhã desta terça-feira (11) protestar contra mudanças no plano de saúde da empresa. Os eletricitários também denunciam a precarização da estatal por parte da sua direção, indicada pelo governo de Romeu Zema (Novo). 

Os temas foram pautados em audiência pública realizada pela Comissão do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social da ALMG, a pedido dos deputados Betão (PT), Leleco Pimentel (PT) e Beatriz Cerqueira (PT). Devido a grande presença da categoria no encontro, que contou com a participação do presidente da Cemig Reynaldo Passanezi Filho, além do auditório dedicado à reunião, trabalhadores se aglomeraram no pátio da Casa Legislativa. 

O principal motivo que levou os eletricitários a paralisarem suas atividades de trabalho e se mobilizarem nesta terça-feira é um aumento de 60,5% nas mensalidades e a precarização do plano de saúde. Com as mudanças, trabalhadores aposentados podem ter que pagar cerca de R$ 2,5 mil para terem acesso ao direito. 

“É satisfatório ver a ALMG tão cheia de trabalhadores, mas é uma pena ser por um motivo tão complicado. O que nós temos é um descumprimento de um acordo que foi feito com a categoria eletricitária para que esses trabalhadores tivessem condições de exercer suas funções”, destaca Emerson Andrada, coordenador-geral do Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores na Indústria Energética de Minas Gerais (Sindieletro-MG).

Impactos

A categoria denuncia que o reajuste foi anunciado sem a realização de nenhum estudo técnico e sem transparência. Como consequência, os eletricitários relatam um cenário de desespero e receio de não conseguirem mais ter acesso à assistência digna, mesmo após décadas de dedicação ao trabalho na empresa. 

Luciano Magela, também diretor do Sindieletro-MG, destaca que a maioria das pessoas atingidas pelo aumento nas mensalidades do plano são idosos. 

“A Cemig é uma empresa de vanguarda, com um nome a zelar, reconhecida nacionalmente e internacionalmente. E está aqui hoje tendo que prestar esclarecimentos sobre as maldades que está fazendo com trabalhadores ativos e inativos. Isso, para nós, é uma vergonha. Muitos não terão a mínima condição de continuar pagando o plano de saúde”, explica. 

Contradições

Durante a audiência, a deputada Bella Gonçalves afirmou que a postura da direção da empresa é condizente com a postura do governo de Minas Gerais, sob comando de Romeu Zema (Novo), que, na avaliação da parlamentar, prioriza interesses privados em detrimento dos interesses públicos. 

“A postura de um governador [Romeu Zema] que aumenta em 300% o seu próprio salário é a mesma postura da Cemig, que quer condenar à desassistência os aposentados e que propõe um aumento de mais de 60% para trabalhadores que têm salários muito menores que os salários dos diretores da empresa”, disse. 

Dados apresentados na reunião na ALMG indicam que, anualmente, a empresa paga um montante de multas de aproximadamente R$ 515 milhões, em razão de erros na prestação de serviços. 

Ao mesmo tempo, o gasto anual da Cemig com o plano de saúde é de apenas R$ 226 milhões. Além disso, em média, o balanço da empresa aponta para um lucro anual de mais de R$ 6 bilhões. 

Para os eletricitários essa é uma das contradições no argumento da direção da estatal, que diz que o benefício é muito caro para a companhia. 

“É uma empresa lucrativa e a tentativa de reajustar o valor do plano de saúde e cortar o aporte que a Cemig faz na contribuição dos aposentados é para poder privilegiar aqueles que vivem comprando ações da empresa. É um absurdo”, contrapõe o deputado Betão (PT).  

Bella Gonçalves ainda lembrou que, no caso da diretoria da empresa, todo o valor gasto com serviços de saúde é reembolsado. “Ou seja, a direção é privilegiada, enquanto delibera para os trabalhadores um aumento na alíquota de contribuição. Isso é imoral”, denunciou. 

Desmonte da empresa

Os eletricitários também argumentam que existe um cenário de desmonte da empresa por parte da atual gestão e do governo estadual. Desde o seu primeiro mandato, Romeu Zema (Novo) afirma ter intenção de privatizar a estatal e chegou a enviar projetos para a ALMG com esse fim. 

Dessa forma, a categoria acredita que os problemas enfrentados pelos trabalhadores e pela população com a piora na prestação de serviços, fazem parte de uma estratégia de precarizar o serviço e influenciar a opinião pública de forma a ser favorável à venda da Cemig. 

“A atual gestão da Cemig está colocando o setor elétrico em colapso. As pessoas perguntam porque o serviço prestado pela Cemig tem piorado tanto e nós dizemos que faz parte do projeto de privatização. Zema está piorando o serviço e deixando o povo sem energia, para que o povo fique indignado com a empresa e apoie a privatização”, alertou Jefferson Leandro, secretário-geral do Sindieletro-MG. 

Atualmente, existe uma cláusula na Constituição Estadual que diz que para privatizar empresas que prestam serviços essenciais, como a Cemig e a Copasa, é preciso aprovação da maioria qualificada dos deputados mineiros e a realização de um referendo popular. 

No ano passado, Romeu Zema enviou para a ALMG uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para acabar com o mecanismo de proteção do patrimônio público. O governador enfrentou a oposição de parlamentares e da sociedade civil, o que fez com que a PEC não avançasse. 

A deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT) também chamou a atenção para o fato de que existe um problema de gestão na empresa. “Para debater as mudanças no plano de saúde, precisamos fazer um debate de gestão. Porque a justificativa síntese em relação às mudanças são muito superficiais”. 

O outro lado

Em meio a vaias dos trabalhadores, ao tentar responder às denúncias, Reynaldo Passanezi Filho afirmou que a sua gestão equilibrou as contas da Cemig e atraiu investimentos. O diretor-presidente da empresa disse ainda que o objetivo é torná-la novamente “indutora do desenvolvimento do estado”. 

Além disso, ele justifica que as mudanças no plano de saúde  foram feitas a partir de análises “financeiras, jurídicas e sociais”, e fazem parte dos esforços da empresa para ajustar as despesas com pessoal.



Fonte ==> Brasil de Fato

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