10 de outubro de 2025

Matemática para todos – 09/10/2025 – Priscilla Bacalhau

Matemática para todos - 09/10/2025 - Priscilla Bacalhau

Em uma sala de aula típica brasileira, apenas uma pequena minoria dos alunos está aprendendo o currículo esperado de matemática. No 5º ano do ensino fundamental, é menos da metade dos estudantes, mas essa proporção cai ao longo da vida escolar. Ao final do ensino fundamental é apenas um quinto dos estudantes que apresentam aprendizagem adequada, chegando a menos de 9% no ensino médio, segundo o Anuário Brasileiro da Educação Básica, com dados do Saeb 2023.

O cenário é devastador. Imagine concluir a educação básica sem conseguir realizar operações simples de porcentagem, ou tendo dificuldade de entender o significado das referências numéricas mencionadas no parágrafo anterior. Possivelmente não é um exercício de imaginação muito complexo, uma vez que é bastante provável, estatisticamente, que você conheça alguém que não aprendeu o básico de matemática na escola – ou você mesmo seja essa pessoa.

Em uma tentativa inédita na educação nacional para mudar esse contexto de forma sistêmica, foi instituído pelo governo federal o Compromisso Nacional Toda Matemática. O programa irá operar com base no regime de colaboração entre os entes federados, assim como outros programas já vêm priorizando para promover equidade e fortalecer a gestão territorial do ensino. O principal objetivo, ambicioso, é assegurar que todos os estudantes da educação básica desenvolvam as competências e habilidades estabelecidas para cada etapa.

Além do regime que respeita a autonomia de cada ente, o programa prevê apoio técnico e financeiro para as redes de ensino, buscando garantir o básico para o ensino de matemática: formação de professores, materiais didáticos e outros recursos pedagógicos. A iniciativa também deve articular diferentes sistemas de avaliação, os quais devem subsidiar o acompanhamento sistemático da aprendizagem e embasar as decisões pedagógicas. Há ainda a previsão da disseminação de boas práticas, por meio de premiações – estratégia recorrente nesta gestão e que, isoladamente, tem eficácia limitada.

A expectativa é de que estes esforços, se bem implementados, não demorem a dar os primeiros resultados já nas próximas avaliações. Na comparação internacional, os números são vergonhosos. Em avaliações internacionais como o Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) e TIMSS (Estudo Internacional de Tendências em Matemática e Ciências), o Brasil recorrentemente figura entre os piores países do mundo em aprendizagem matemática. Estamos em um patamar tão baixo, com tantas desigualdades regionais, raciais e de gênero, que é razoável supor que uma estratégia sistêmica bem executada tem bastante potencial para melhorar a aprendizagem em matemática.

Não aprender o suficiente dos números no começo da vida escolar pode levar a dificuldades persistentes e até à rejeição à disciplina. Não aprender o suficiente se constitui como uma barreira a carreiras mais promissoras em termos salariais. A matemática está presente em tudo o que fazemos na vida cotidiana, inclusive no entendimento de decisões políticas. Quando o Brasil não aprende o suficiente de matemática, se limita não apenas o desenvolvimento econômico, mas também o desenvolvimento de cidadãos para a cidadania e participação democrática.



Fonte ==> Folha SP

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