Ao menor sinal de garoa —suspeita de nuvens negras no céu—, os EUA estão paralisando os jogos da Copa do Mundo de Clubes, não importa que a cinco minutos do apito final e que as chances de um raio fuzilar alguém sejam menores que a de chover dinheiro. Parece haver algo de errado hoje no país que, na segunda Guerra Mundial, enfrentou mosquitos, tanques e tempestades em Okinawa e Guadalcanal. E cancela de vez um naipe de filmes clássicos de Hollywood em que americanos faziam o diabo debaixo de chuva.

John Wayne e Maureen O’Hara vivem uma fabulosa cena de amor sob o maior toró em “Depois do Vendaval” (1953). Wayne toma ainda mais chuva em “Rastros de Ódio” (1956), ao cruzar o Oeste em busca de sua sobrinha Natalie Wood, capturada pelos comanches. O mesmo com Audrey Hepburn, cílios postiços e tudo, à procura de seu gato pelas ruas de Nova York no final de “Bonequinha de Luxo” (1961). E pode haver mais bela seqüência de chuva que a de “Correspondente Estrangeiro” (1940), de Hitchcock, em que um atentado contra um político faz com que a multidão de guarda-chuvas abertos se mova ao mesmo tempo na praça?

Humphrey Bogart espera em vão por Ingrid Bergman numa estação de trem sob temporal em “Casablanca” (1942). Bogart ainda iria enfrentar um assustador furacão em “Paixões em Fúria” (1948) —incrível que sua peruca não saísse voando em meio a tanto vento. Peter Finch tem seu momento de eternidade sob um pé-d’água em “Rede de Intrigas” (1976). E o que dizer da chuva ácida que não poupa ninguém em “Blade Runner” (1982)?

E será preciso citar Gene Kelly em “Cantando na Chuva” (1952)? Assim como as anteriores, esta era uma chuva de estúdio, gerada por um jogo de mangueiras e sprinklers capazes de despejar água em qualquer quantidade —a “máquina de chuva”. Mas, chuva falsa ou não, Gene e todos os citados tomaram água de verdade para filmar, e ninguém morreu por isso.

Talvez os estádios americanos estejam temendo processos de torcedores acometidos de espirros e corizas.