10 de junho de 2025

Menopausa e coração: o que ninguém te contou – 09/06/2025 – Pintando um Clima

A imagem mostra um arranjo de flores margaridas brancas com centros amarelos dispostas em forma de coração sobre uma superfície de madeira escura. As flores estão organizadas de maneira a criar um contorno bem definido do coração, destacando a simplicidade e a beleza natural das margaridas.

Ah, climatério, climão, belezura do meu coraçã–a-a-ao!

Quando eu entrei em menopausa precoce pouco antes de cumprir 39 anos, ninguém, absolutamente ninguém me alertou que o colesterol poderia disparar ou que meu risco cardiovascular aumentaria, e que isso poderia ser consequência direta da menopausa.

(e olha que, como paciente oncológica, eu passei por não poucos especialistas)

Durante a peri e sobretudo após a chegada da menopausa, nosso corpo passa por mil transformações. Uma das mais importantes afeta nosso sistema cardiovascular, e começa a se desenhar justamente no perfil lipídico.

Antes da menopausa, o estrogênio desempenha um papel protetor em nossa saúde cardiovascular: melhora a flexibilidade das artérias e participa da regulação do colesterol e da pressão arterial.

Com a menopa e a queda hormonal, ocorre um aumento súbito dos níveis de LDL e triglicerídeos, queda no HDL (o colesterol “bom”) e maior propensão à inflamação vascular, o que acelera o desenvolvimento de placas e favorece o aparecimento de doenças cardíacas.

Por isso, o risco cardiovascular das mulheres, que é menor do que o dos homens na pré-menopausa (os anos férteis), pode chegar a quadruplicar nos 10 anos após a menopausa. Para as que temos menopausa precoce antes dos 45, o risco é ainda maior.

Esse aumento do colesterol costuma acontecer de forma rápida, geralmente entre o ano antes e depois da menopausa. É por isso que a perimenopausa (isto é, o período que antecede a menopausa, em que começamos a sentir que #ACoisaEstáMudando) é a hora ideal pra check-up e adotar medidas preventivas que podem fazer uma diferença crucial a longo prazo.

Menopausa e coração: riscos indiretos

Além do efeito no perfil lipídico, outras alterações do climatério podem indiretamente agravar o risco cardiovascular.

Uma delas é o acúmulo de gordura abdominal ou visceral (entre os órgãos do abdômen). Esse tecido adiposo é metabolicamente super ativo e inflamatório, e contribui para aumentar resistência à insulina, colesterol, pressão arterial e outros paranauês complicantes do corazón (por sinal, em homens e mulheres).

Além disso, há indícios de que o HDL, conhecido como “colesterol bom”, não só cai com a menopausa como perde parte de sua eficácia protetora. Estudos mostram que, mesmo quando os níveis de HDL continuam altos, a qualidade desse colesterol pode ser comprometida na pós-menopausa. Ou seja, ele pode não cumprir mais tão bem sua função de “faxineiro” das artérias, o que exige ainda mais atenção com nossos exames regulares, dieta e hábitos de vida.

A menopausa também pode levar a alterações na coagulação do sangue. Isso, aliado ao estreitamento das artérias e aumento do LDL, cria um ambiente propício para tromboses e AVCs. Ay ay aye.

Colesterol: muito além do ovo

E, gente, não adianta fugir do ovo pensando que está se salvando: ao contrário da crença popular, o maior vilão do colesterol na dieta não são alimentos ricos em colesterol (exceção importante se você tem uma hipercolesterolemia familiar ou genética), e sim as gorduras trans (presentes em ultraprocessados, margarinas, biscoitos recheados etc) e saturadas (embutidos, carnes processadas, queijos amarelos, frituras, industrializados) em excesso. Essas, sim, têm impacto mais direto sobre o aumento do LDL e o risco cardiovascular.

Reposição hormonal e risco cardiovascular

Se um dos grandes problemas é a queda do estrogênio, então bora fazer uma reposiçãozinha, certo?

Não é tão simples.

Atualmente, não se recomenda oficialmente o uso da TRH com o objetivo exclusivo de prevenção primária de doenças cardíacas.

Segundo as diretrizes mais recentes publicadas em 2024 pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) em parceria com a FEBRASGO (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) e SOBRAC (Associação Brasileira de Climatério), a terapia de reposição hormonal (TRH) pode ser considerada nas mulheres com sintomas moderados a graves da menopausa sem contraindicações, especialmente se iniciada dentro da chamada “janela de oportunidade” — ou seja, até 10 anos após o início da menopausa ou antes dos 60 anos —, quando os benefícios parecem superar os riscos cardiovasculares.

Inclusive, uma revisão sistemática com mais de 40 mil mulheres com este perfil (menos de 60, pós-menopáusicas ) indicou possível redução de alguns fatores associáveis a risco cardiovascular com uso de TRH oral.

Por outro lado, outra revisão com pacientes do mesmo perfil e doença cardiovascular preexistente não indicou nenhum benefício consistente.

A questão é complexa, interessante, sem dúvida, e segue em estudo. O ideal, siempre, é conversar com um especialista de confiança para entender seus riscos e benefícios e determinar o melhor protocolo (e via de administração, já que isso também conta) para o seu contexto específico.

Dicas, queremos dicas!

Ce vai dizer que já ouviu tudo isso, mas se alguém aí ainda não faz esse KitBásico, aí vai.

Começando pela perimenopausa: mexer o corpo com regularidade — combinando caminhada, dança, musculação — vai te ajudar a manter o metabolismo ativo, reduzir o LDL (colesterol ruim), aumentar o HDL (o bom) e manter a inflamação sob controle.

A alimentação também conta muito: invista em fibras (frutas, legumes, integrais), gorduras boas (azeite, castanhas, peixes) e inclua alimentos como tofu e edamame, que contêm isoflavonas naturais com leve efeito estrogênico du bem, salvo contraindicação. Evite ultraprocessados, gorduras trans e saturadas, que impactam diretamente no colesterol e no risco cardíaco.

Manter seus exames em dia é outro passo fundamental: colesterol total, HDL, LDL, triglicerídeos. Leve esses dados à equipe médica pra discutir estratégias — desde ajustes alimentares até, se indicado, terapia hormonal ou uso complementar de medicação.

E não negligencie o que parece “invisível”: proteja o seu sono, pilote o melhor possível o estresse diário (sim, ele afeta mil cousas que, por sua vez, podem afetar seu risco cardíaco), evite cigarro, modere o álcool (sim, ambos zoam diretamente o colesterol) e cuide da sua saúde mental. Tudo isso influencia, direta ou indiretamente, a saúde do seu precioso coração.

Cada pequeno hábito conta e, no climão, o óbvio passa a ser fundamental. Bora bora que atrás vem vida ❤

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Fonte ==> Folha SP

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