Apesar da interrupção na queda de popularidade do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a recente pesquisa Datafolha, realizada entre 1º e 3 de abril de 2025, mostra que se tornou mais negativa a percepção da população a respeito do estado da economia, mesmo com crescimento acima do esperado.
Pela primeira vez no terceiro mandato de Lula, a maioria dos entrevistados (55%) considera que a situação econômica nacional piorou nos últimos meses, um salto de dez pontos percentuais desde dezembro de 2024.
A confiança da opinião pública também segue abalada: 36% agora esperam uma piora nos próximos meses, ante 28% em dezembro, enquanto os otimistas caíram de 33% para 29%. Já na esfera pessoal, embora a estabilidade predomine (39%), a sensação de piora subiu de 27% para 34%.
Na mesma direção, há expectativa majoritária de que a inflação continuará em alta (62%, ainda que abaixo dos 67% da leitura anterior) e pessimismo dominante quanto ao poder de compra dos salários —37% acham que vai diminuir, ante 30% que acreditam em aumento, relação um pouco melhor que a de dezembro.
Os números refletem a pressão inflacionária aguda, sobretudo em itens essenciais, como alimentos, que penaliza as famílias mais pobres desproporcionalmente. Tal situação foi impulsionada pelo gasto público e percebida pela população, que se torna descrente de uma virada positiva.
De fato, mesmo os indicadores favoráveis no mercado de trabalho —como a criação recorde de 431 mil vagas formais em 2025, segundo o Caged, e uma taxa de desemprego de 6,8%— não trazem alento nas respostas. Pelo contrário, 43% preveem fechamento de vagas, ante 41% em dezembro.
É um sinal de que o humor econômico pode estar mais atrelado à inflação do que ao emprego. A batalha contra a elevação de preços está longe de ser vencida. As projeções para a alta do IPCA neste ano estão em 5,65%, muito acima da meta de 3%. Não se espera grande melhora nos alimentos
A expectativa há poucos meses era a de que os juros altos, que devem se aproximar de 15% ao ano nos próximos meses, poderiam esfriar a atividade e abrir espaço para taxas menores e uma retomada da economia até 2026.
Para tanto, seria desejável paciência do governo, com contenção de gastos públicos, até que a política monetária pudesse fazer o seu papel. Não é o que indica o Planalto, contudo, ao insistir em medidas de estímulo que a esta altura apenas devem prolongar o período de juros elevados.
No mundo, cresceu o risco de recessão com as medidas tresloucadas do presidente americano, Donald Trump, que já provoca queda dos preços do petróleo e pode desvalorizar o dólar. Uma eventual apreciação do real e menores custos de energia podem reduzir a carestia interna.
De todo modo, trata-se de cenário hostil, com o qual Lula não demonstrou capacidade de lidar após dois governos de bonança.
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Fonte ==> Folha SP