18 de abril de 2025

Mulheres que atacam mulheres – 07/04/2025 – Opinião

Ilustração de 6 mulheres de perfil com os rostos em direção ao lado esquerdo da imagem; 2 na metade superior e 4 na metade inferior. Elas sorriem e têm cabelos e tons de pele diversos.

Na semana retrasada, a jornalista Mariliz Pereira Jorge, colunista desta Folha, escreveu um artigo com o título “O feminismo errou” (21/3). Um texto repleto de clichês e equívocos trágicos que transpareceram de maneira inequívoca uma absoluta falta de conhecimento a respeito do que é e de como funciona o movimento feminista.

Como diretora nacional da Coalizão Nacional de Mulheres, um movimento que hoje se encontra em quase todo o território nacional, reunindo mais de 500 lideranças feministas de todo o Brasil, pensei em propor que pedíssemos uma réplica à Folha. Mas a coalizão tem por objetivo ser um movimento de mulheres que apoiam mulheres. Por mais absurdas que fossem as afirmações trazidas no texto, considerei que não caberia a nós construir um embate público visto que o alvo da resposta seria uma mulher.

Felizmente, o meu desconforto e de todas as mulheres que de fato estão na arena pela luta por igualdade entre homens e mulheres de maneira séria, foi aplacado por intermédio do brilhante artigo publicado pela filósofa Djamila Ribeiro, que respondeu ao texto da colunista, não deixando de refutar nenhum ponto da teia de erronias trazida na publicação de Mariliz.

Na sexta-feira, o Portal Catarinas também publicou um artigo em resposta à jornalista. Eu li os cards que compunham o post e achei importante marcar Mariliz, escrevendo o seguinte texto: “Acho que você precisa ler esse artigo. Com a visibilidade que você tem, não dá para escrever sobre o feminismo sem estudar sobre o tema com a necessária profundidade”.

Em resposta, a jornalista escreveu: “ahhh la vem a fofa passiva agressiva. Va cagar no mato e me erra. (sic)”

Fiquei chocada! Uma grosseria totalmente desnecessária e gratuita.

No sábado (5) de manhã, descobri que não satisfeita em escrever aquela resposta agressiva e deselegante, a jornalista printou a nossa interação e postou em seu perfil, que conta com mais de 105 mil seguidores, me expondo indevidamente. Eis a legenda do post:

“Ain a Mariliz é grossa. Mano, vocês não tem ideia da quantidade de comentário escroto que me mandam ou que marcam? Ou eu preciso estudar porque “claro” sou burra porque penso diferente; ou sou falsa feminista; ou o feminismo que defendo não presta. Na boa, eu sou legal pra caralho, mas paciência tem limite e quando ultrapassa o limite eu sou grossa pra caralho. Quer feminismo de hashtag? Toma um aqui #nãopassarão.”

Algumas pessoas printaram o post e me encaminharam. No momento em que foi feito o print, já havia quase 400 curtidas e 57 comentários na postagem. Tive acesso a alguns comentários e, em regra, as pessoas estavam desdenhando da minha intelectualidade e concordando com aquele ataque descabido e impertinente. Os seguidores, assim como a jornalista, não me conhecem e não fazem a menor ideia da minha trajetória, mas se sentiram no direito de me julgar.

Quando fui conferir o post no feed da colunista, a postagem já havia sido apagada.

Mariliz, deste ponto gostaria de me dirigir diretamente a você:

O texto da Djamila trouxe uma explicação gentil e generosa sobre questões que merecem a sua reflexão para evitar que você use um espaço importante como uma coluna na Folha para propagar uma opinião pautada por estereótipos completamente incorretos sobre os feminismos. Eu fiz o mesmo ao indicar a leitura do artigo. Não sou uma pessoa passiva-agressiva, eu realmente acredito de todo coração que você não faz a menor ideia do que seja o movimento feminista e o seu texto faz prova disso.

Se nós duas, Djamila e eu, não conseguimos sequer falar com você e sermos ouvidas e respeitadas, perceba como o seu argumento de que as mulheres seriam corresponsáveis pela violência masculina por não “incluir os homens nos diálogos feministas” cai por terra. Não é possível fazer milagres. Só é possível dialogar com quem está aberto a isso.

A sua reação à minha fala, mesmo depois de Djamila ter explicitado os tantos equívocos trazidos no artigo que você publicou, comprova que não é uma missão simples incluir as pessoas em um debate realmente sério sobre questões de gênero.

Deixo a porta aberta, caso queira aprender sobre o movimento feminista e as suas múltiplas vertentes de feminismos. A coalizão publica regularmente artigos em jornais de grande circulação, inclusive na Folha. Em nosso perfil no Instagram temos muitos vídeos, lives e indicações de livros. Convidar alguém para estudar nunca pode ser considerado uma ofensa. Principalmente quando a pessoa realmente deveria fazê-lo.

Divergir é saudável e próprio da democracia. O seu pensamento não está sendo “desrespeitado” por quem a criticou; está sendo contestado porque cabe um contraponto. Quem ocupa espaços na mídia precisa saber lidar com quem discorda sem que isso seja visto como um ataque pessoal.

Discussões públicas entre mulheres, envolvendo termos chulos e ataques desnecessários, principalmente envolvendo esse tema que é tão caro e delicado para todas nós, é um completo desserviço.

Espero que você reflita a respeito da sua atitude e não use novamente as suas redes sociais para atacar uma mulher de forma leviana e injusta, seja ela quem for. Eis um erro que você pode corrigir efetivamente porque depende só de você.

Cada mulher entrega a sua contribuição pela concretização dos direitos das mulheres na medida da maturidade de sua tomada de consciência. Não atacar outras mulheres é o básico, mas bem elementar mesmo, quando falamos sobre atitudes alinhadas com os ideais do movimento feminista.

Rogo que esse episódio possa lhe ajudar em sua jornada de amadurecimento a respeito dessa causa que é de todas nós.

TENDÊNCIAS / DEBATES

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.



Fonte ==> Folha SP

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