Sempre se desconfiou, mas hoje podemos ter certeza. Ao contrário do que muitos pensavam, os filhos de Bolsonaro nunca foram uma trinca de dois de paus, simples legatários do pai presidente. Cada qual tinha um papel na conspiração que, desde o dia da posse, 1º de janeiro de 2019, preparou o terreno para a ditadura que, pelo voto ou pelo golpe, viria no segundo mandato. As investigações da PF agora confirmam: logo abaixo de Bolsonaro, beneficiário final de todo o esquema, estava Carlos Bolsonaro, o filho 02.
Disfarçado de vereador pelo Rio —muito mais visto no gabinete do pai, em Brasília, do que na Câmara Municipal carioca—, Carlos era o cérebro da operação. Sua função era a de arquitetar as manobras clandestinas, como a inteligência paralela, a espionagem dos ministros togados, a análise de dossiês, a desmoralização do sistema eleitoral, a propagação de fake news, o embaraçamento de investigações e a blindagem dos familiares —não admira que não tivesse tempo para justificar seu salário de vereador. A execução de tudo isso ficava a cargo de Alexandre Ramagem, diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), com uma equipe de agentes especiais.
Já Flávio Bolsonaro, o filho 01 (mas só por ordem de entrada em cena), fazia o papel do político tradicional: assíduo e agressivo no Congresso, aparente articulador de apoios e, como todos do gênero, suspeito de corrupção —não por acaso detentor de um sólido patrimônio imobiliário. Isso o tornava especialmente visível, possibilitando uma velha tática: enquanto os opositores se ocupavam de Flávio, o imperceptível Carlos passava a boiada golpista.
Mas, quem sabe o principal responsável pelo desvio da atenção não seria o filho 03, o folclórico Eduardo Bolsonaro? Seu pai o tratava como o idiota da família, expondo-o ao ridículo ao tentar fazê-lo embaixador em Washington por sua experiência de fritador de hambúrguer no Maine. Mas, e se isso fosse só parte do plano?
Não se iluda, não há idiotas na família Bolsonaro.
Fonte ==> Folha SP