No Linkedin, qualquer situação cotidiana vira post motivacional – 06/06/2025 – Flavia Boggio

No Linkedin, qualquer situação cotidiana vira post motivacional - 06/06/2025 - Flavia Boggio

Não sou muito de anunciar aos quatro ventos o que faço profissionalmente. Mas dependo disso para sobreviver. Como profissional liberal, é importante divulgar os projetos que realizo, mesmo sendo mais para envergonhada do que para humilde.

É nessas horas que me aventuro em um território dominado por quem não tem vergonha de se gabar dos próprios feitos. Respiro fundo e digito o endereço tão temido: L-I-N-K-E-D-I-N.

Útil e, ao mesmo tempo, ameaçador, o LinkedIn é a principal plataforma de networking profissional. E um dos ambientes mais nocivos da internet.

Esqueça as nádegas duras do Instagram acompanhadas de frases atribuídas a Clarice Lispector. Até um tuiteiro xingando outro só porque deu “bom dia” é mais saudável. O LinkedIn é capaz de sugar a alma de qualquer um que se aventure por lá.

Funciona como um antidepressivo ao contrário. Quando estou muito feliz e entro, saio sem ânimo para seguir em frente, depois de ler posts de heróis de crachá, otimistas de baia, influencers de RH… E, mesmo assim, nós continuamos voltando, como em um relacionamento tóxico de estimação.

Mas o que mais impressiona são os posts motivacionais. Qualquer situação cotidiana, no LinkedIn, vira uma lição de vida profissional. É a fanfic corporativa.

A influencer Virgínia se separou do sertanejo Zé Felipe? Que tal transformar isso em lição sobre branding e gestão de crise?

“A separação de um casal famoso nos ensina sobre identidade de marca. Até o rompimento de uma holding pode ser uma oportunidade para exibir a qualidade do seu produto e garantir talkability. Afinal, visibilidade é engajamento. A lição que fica é: não dependa de apenas um parceiro para sustentar sua empresa.”

Os bebês reborn viraram assunto do momento? Aproveite para ensinar sobre gestão de pessoas.

“Hoje aprendemos que não são só os bebês reborn que são de plástico. Há muitos funcionários com olhos fixos, presentes apenas de corpo. Um chefe reborn pode ter a aparência perfeita, mas não mama sozinho. Precisa de um bom time por trás, que garanta que o trabalho seja completo. Em um mundo cada vez mais automatizado, o maior diferencial é ser humano.”

E assim seguimos, alimentando nosso relacionamento tóxico de estimação com o LinkedIn.



Fonte ==> Folha SP

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