23 de abril de 2025

O Brazil não conhece o Brasil

O Brazil não conhece o Brasil

Um dos problemas do país é a imensa desinformação sobre sua própria população e seu consumo. Existe um Brasil ensinado nas universidades e distante da realidade. Nos acostumamos a ver o Brasil pelos grandes centros e desconhecemos a vida e as enormes oportunidades que existem no Brasil dos fundões, dos pequenos municípios e das camadas populares.

Fora da Faria fez três perguntas para Marcos Pazzini, Sócio-Diretor da IPC Marketing. Coordenador do estudo IPC MAPS, há 30 anos ele vem desvendando o Brasil, convergindo dados demográficos e de potencial de consumo. Marcos será colaborador da coluna, sempre trazendo informações sobre o país e o consumo.

Confira a seguir.

Fora da Faria: Aldir Blanc e Maurício Tapajós fizeram um verso que Elis Regina imortalizou em 1978: O Brazil não conhece o Brasil. Depois de tantas décadas, o Brasil ainda é desconhecido?

Marcos Pazzini: Se as pessoas compreendessem a importância dos dados, o Brazil conheceria mais do Brasil. O país, com suas dimensões continentais, tem uma série de peculiaridades. A primeira é que existem 5.570 municípios no País, sendo a maioria (44,3%) com até 10 mil habitantes.. Se avançarmos para cidades com até 20 mil habitantes, chegamos a 3.823 municípios, o que corresponde a 68,6% das cidades brasileiras. Temos a imagem de grandes capitais, mas somos um país de pequenas comunidades. Somos o País das desigualdades. Esses 32 milhões de brasileiros são 15,1% da população e respondem por 11,2% do consumo nacional. Mais gente consumindo menos. Os pequenos municípios são esquecidos pelo Brasil.

Olhando os dados podemos fazer várias leituras. Uma bem objetiva é que 87,9% dos municípios de menor porte representam 23% do potencial de consumo, inferior aos 0,3% das maiores cidades do país que apresentam potencial 25,3%. A desigualdade está escancarada. Quinze cidades têm uma circulação de dinheiro de consumo maior do que 4.895 outros municípios.

FF: A imensa maioria da população é de camadas C e D/E. Mas esse é um setor praticamente fantasma. Qual a importância desse setor no consumo e no desenvolvimento do Brasil?

MP: As classes C e D/E ocuparam, em 2024, quase 76% (47,9 milhões) dos domicílios brasileiros, mas foi responsável por apenas 45,0% do consumo. Seus maiores bolsões estão nas regiões Nordeste e Norte, com respectivamente, 85,4% e 80,7% dos domicílios concentrados nessas classes. Apesar da distância, os produtos populares encontram vigor aí. São muitas pessoas consumindo produtos populares. Isso explica porque qualquer impulso de renda para essas camadas pode mudar a vida de uma região inteira.

FF: Como podemos desenhar a desigualdade no Brasil?

MP: A desigualdade está presente no dia a dia do país com um olhar simples: se há uma população mais rica em um determinado Estado, esta vai demandar serviços das classes C e D/E, tais como, empregadas domésticas, porteiros de prédios, babás, jardineiros etc. A população mais pobre convive com a população mais rica em empregos menos qualificados. A diferença está escancarada nas casas.  A região Sudeste, em 2024, concentrou 48,5% de todo o consumo brasileiro, com um contingente de quase 22 milhões (72,7%) de domicílios nas classes C e D/E. O maior consumo, claro, veio das faixas de renda mais elevadas. No Norte e Nordeste a presença de camadas mais ricas é menor e, na média, diferente do Sudeste. Há ainda um elemento interessante. As camadas do Sudeste com menos renda são diferentes das mesmas camadas no Norte e Nordeste. As influências socioculturais no país são distintas. Isso muda apenas na população na linha da pobreza ou abaixo dela. Como diz a música dos Titãs, “miséria é miséria em qualquer canto.”



Fonte ==> Casa Branca

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