26 de junho de 2025

O Brics como um ímã geopolítico – 05/05/2025 – Opinião

A imagem mostra um grupo de pessoas posando para uma foto em frente a um edifício histórico, com um lago e palmeiras ao fundo. As pessoas estão vestidas formalmente e algumas usam gravatas. No primeiro plano, há uma faixa com o texto

Na atual conjuntura geopolítica, marcada por incertezas e disputas, o Brics, cuja cúpula acontecerá em julho, no Rio de Janeiro, emerge como um centro de atração. A expansão significativa do bloco, que dobrou de tamanho desde sua criação, contando agora com 11 membros plenos e 9 parceiros, além do interesse de mais de 30 outros Estados em aderir, evidencia sua crescente influência no cenário internacional.

Essa crescente atração pode ser entendida a partir de dois eixos: os estímulos econômicos e os valores que orientam o grupo.

Os países que buscam ingressar no Brics são motivados, em grande parte, por benefícios concretos. A ampliação das relações comerciais, especialmente no comércio intraBrics, fortalece a competitividade, abre novas oportunidades de mercado e reduz a vulnerabilidade a sanções e restrições impostas por potências ocidentais, evidenciadas pelos tarifaços impostos pelo governo Donald Trump, que vem ressaltando a necessidade de diversificar os interesses comerciais e reduzir a dependência de mercados dominados pelos Estados Unidos.

O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) desempenha um papel central nessa dinâmica. Criado em 2014 como uma alternativa ao Banco Mundial e ao FMI (Fundo Monetário Internacional), o NDB financia projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável sem impor condicionalidades ligadas a quaisquer políticas públicas, além de reduzir a dependência em relação às instituições financeiras tradicionais.

Além dos incentivos econômicos, o Brics expressa um atrativo valor político para os países do Sul Global, ao defender a construção de uma ordem mundial menos desigual. A diversidade de seus membros, que antes era vista como um fator de fragilidade, tem sido ressignificada como uma força. O bloco valoriza as trocas comerciais em moedas nacionais e a ideia de que o processo de modernização das sociedades seja compatibilizado com a preservação da heterogeneidade de tradições e histórias dos países do agrupamento.

Embora a recente ameaça de Trump de impor tarifas de 100% aos países do bloco —caso continuem avançando na agenda de “desdolarização”— possa levar a recuos estratégicos, ela também reforça o aspecto ideacional do Brics, consolidando-o como um projeto coletivo que se contrapõe a um mundo liderado de forma arrogante por uma única superpotência, que vem desmantelando as instituições e regras da governança global, substituindo o princípio da lei pelo da força.

Em resposta, o Brics vem reafirmando seu compromisso com o multilateralismo, a preservação das instituições internacionais e a centralidade da ONU como pilares fundamentais para uma ordem mundial mais equilibrada e justa.

A paranoia estratégica norte-americana, expressa na securitização de temas comerciais e diplomáticos, evidencia uma visão de mundo na qual o fortalecimento de outros polos é visto como uma ameaça existencial. Paradoxalmente, ao tentar impor uma agenda unipolar, os Estados Unidos acabam gerando uma reação contrária, consolidando o Brics como um espaço de resistência e construção de alternativas.

Como numa dinâmica de cabo de guerra, quanto mais Trump puxa para um lado, mais o Brics é impulsionado na direção oposta —legitimando sua existência e missão.

Dessa forma, o grupo atrai países não somente por incentivos materiais, mas também pela força de sua visão de mundo, que tem na defesa da multipolaridade e da diversidade política e econômica um valor essencial. Assim, o Brics emerge não apenas como um bloco econômico ou geopolítico, mas como um projeto político que desafia a imposição de uma única história e abre espaço para múltiplas trajetórias no sistema internacional.

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Fonte ==> Folha SP

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