Para quem está concluindo o ensino médio e quer ingressar na faculdade, chegou uma época decisiva do ano: a inscrição no Enem. Mas o Exame Nacional do Ensino Médio pode beneficiar muito mais gente do que adolescentes prestes a concluir a educação básica e pessoas mais velhas que desejam cursar o ensino superior. Em 2025, o Enem volta a ser usado como forma de certificação do ensino médio, abrindo possibilidades para quem não conseguiu concluir os estudos na idade adequada.
Segundo o Censo Demográfico de 2022, há quase 24 milhões de adultos no Brasil que completaram o ensino fundamental, mas não o médio, e outros 49 milhões que sequer finalizaram o ensino fundamental. Trata-se de um enorme contingente de pessoas que não tiveram seu direito à educação básica plenamente garantido. No entanto, nunca é tarde para promover justiça social.
Facilitar o acesso ao diploma de ensino médio a quem não pôde concluir a educação básica é uma forma de não abandonar quem ficou para trás. Sinalizar que há caminhos para obter esse diploma e sonhar com melhores oportunidades é fundamental. Por outro lado, o Enem não é a única via de certificação —investir na Educação de Jovens e Adultos (EJA) é essencial para garantir a escolaridade de todos.
Esta não é a primeira vez que o Enem é utilizado para certificação. Até 2016, pessoas com mais de 18 anos podiam se inscrever no exame com essa finalidade, desde que atingissem uma pontuação mínima. Contudo, a partir de 2017, essa possibilidade foi retirada sob a justificativa de que o nível de exigência do Enem era mais adequado a quem buscava ingresso no ensino superior.
A mudança contribuiu para a queda no número de inscrições. Entre 2014 e 2016, quando o Enem ainda valia para certificação, cerca de meio milhão de participantes por ano eram não concluintes e não egressos do ensino médio. Esse número despencou para 75 mil em 2017 e para menos de 20 mil em anos subsequentes.
Ou seja, ainda deve haver uma demanda reprimida de centenas de milhares de pessoas em busca de uma alternativa para conquistar o diploma, que, para muitos, nunca foi um sonho possível. A retomada da função certificadora pode ser também uma estratégia do governo para impulsionar o volume de inscrições e retomar os níveis que o exame já teve.
Entre as vantagens da retomada, há a possibilidade de o candidato aproveitar a mesma prova para tentar uma vaga no ensino superior e acessar bolsas de estudo. Além disso, por ser aplicado nacionalmente e contar com isenção de taxa para inscritos no CadÚnico, o Enem contribui para democratizar o acesso, inclusive em regiões remotas. Por outro lado, a prova é extensa, exige bom desempenho em todas as áreas e na redação, o que pode ser desafiador para quem está afastado da escola há anos.
O prazo de inscrição é curto —6 de junho. Por isso, é essencial que a divulgação do processo alcance quem mais precisa: jovens que desejam seguir uma profissão de nível superior, pessoas mais velhas que querem retornar ou ingressar no ensino superior e, agora também, adultos que ainda não concluíram o ensino médio.
Mais do que abrir portas, essa conquista é motivação para transformar vidas.
Fonte ==> Folha SP