O papel do jornalismo no resgate da memória foi destacado em seminário em Porto Alegre – Brasil de Fato

Com o evento “Democracia, Ditadura, Jornalismo: ainda estamos aqui, mas eles também”, o Sindicato de Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (SindJoRS) em conjunto com a Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (Fabico), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), encerrou, na manhã desta quarta-feira (30), as comemorações do Dia das e dos jornalistas, que ocorreu em 7 de abril. O debate, que contou com a participação de mais de 70 pessoas entre profissionais da comunicação, sindicalistas, estudantes e professores, ocorreu no Auditório I da Fabico.

Na abertura, a diretora da Fabico, Ana Taís Martins, ressaltou a importância do trabalho conjunto entre a universidade que forma os profissionais de comunicação com o sindicato e agradeceu esse trabalho conjunto que serve para auxiliar na formação de profissionais mais críticos.

A presidenta do SindJoRS, Laura Santos Rocha, leu um manifesto especialmente escrito para o encontro onde ressaltou “somos trabalhadoras e trabalhadores que lutam contra a exploração, a iniquidade, pelos direitos fundamentais, pela defesa do jornalismo, que é a defesa da liberdade de expressão, e pelo direito à informação”.

O manifesto pode ser lido aqui.

O debate contou com a participação do advogado Antonio Carlos Porto Jr e das e dos jornalistas Christa Berger, Felipe Moura de Oliveira, Katia Marko, Márcia Turcato, Moisés Mendes, Pedro Dreher e Rafael Guimaraens. A importância de resgatar a memória sobre a história recente da sociedade brasileira e os ataques a democracia e ao Estado de direito foram unanimidade na fala dos debatedores.

Histórias familiares como a de Porto Jr, que tinha entre 4 a 8 anos quando seu pai era o presidente do SindJoRS, em um dos períodos mais nefastos da ditadura, ou como a contada por Moisés Mendes sobre os jornalistas que foram presos no interior do estado, mais especificamente em Uruguaiana, por publicar, contrariando ordens dos sensores, informações sobre o surto de meningite na região e que ninguém ficou sabendo fizeram parte das narrativas.

Christa Berger salientou que “o que chamou a atenção na proposta do debate foi a partir do filme a gente ser provocado a pensar sobre ditadura e democracia e isto é extremamente importante”. Felipe Oliveira destacou que “se estamos falando de jornalismo, de linguagem e de memória é fundamental pensar que aquilo que é dito hoje pelo jornalismo amanhã é história”.

A importância de resgatar a memória sobre a história recente da sociedade brasileira e os ataques a democracia e ao Estado de direito foram unanimidade na fala dos debatedores – Foto: Divulgação

“A nossa missão é crucial, e informar é um direito de todos e um bem comum” disse Márcia Turcato, que relembrou a cerimônia de recolocação da placa de homenagem a Vladimir Herzog, na Fabico, na semana anterior, e citou os estudantes da faculdade que receberam prêmios recentemente.

Rafael Guimaraens contou sobre sua experiência como jornalista no Coojornal, da Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre, e entre outros temas, falou que “os grandes jornais, as grandes empresas de comunicação, os chamados jornalões como eram conhecidos, apoiaram o golpe porque o governo Jango tinha três eixos condutores: reforma agrária, urbana e bancária e estes temas contrariavam aos interesses e unificaram os latifundiários, empresários urbanos e capital externo que atuavam no Brasil”, afirmou Rafael.

O jornalista Pedro Dreher, vice-presidente do SindJoRS e responsável pelo projeto gráfico e diagramação do jornal on-line do sindicato, o Versão de Jornalistas, apresentou a última edição que acaba de ser finalizada.

Rafael Guimaraens contou sobre sua experiência como jornalista no Coojornal, da Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre – Foto: Divulgação

Segundo a presidenta da entidade, com esta atividade o sindicato pretendeu resgatar junto aos profissionais de comunicação, estudantes e comunidade em geral o debate sobre democracia, ditadura e jornalismo tendo como linha condutora a conversa sobre o filme Ainda estou aqui, mas também analisar as mais recentes tentativas de golpe no Brasil, assim como a atual geopolítica mundial.

“Nos últimos meses o cinema vem sendo um importante instrumento de visibilidade de temas tais como democracia, ditadura, genocídio, direitos humanos, liberdade, violência e mudanças climáticas. Recentemente, assistimos a premiação de filmes como Ainda estou aqui, de Walter Salles, e o documentário Sem Chão (No Other Land), produzido pelo ativista palestino Basel Adra em colaboração com o jornalista israelense Yaval Abraham”, destaca.

Na sua visão, o filme Ainda estou aqui vem contribuindo efetivamente para que os brasileiros de todas as idades e classes sociais recuperem a memória nacional até hoje adormecida de um terrível período do país que foi a ditadura militar, entre os períodos de 1964 a 1985. “O filme destaca em sua história tão bem contada de forma simples e empática a história das famílias que sofreram violência brutal dos agentes do estado brasileiro. Este filme ressalta a importância de um acerto de contas com a história em um Brasil que diferente de outros países da própria América Latina, o tema ainda não foi enfrentado plenamente.”



Fonte ==> Brasil de Fato

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