Após uma série de protestos, interdições de vias e interrupções na linha férrea —sem contar a costumeira truculência da PM paulista—, um acordo firmado entre a União e o governo do estado pode dar um fim apropriado à favela do Moinho, ocupação de décadas e a única incrustada no centro de São Paulo.
Num país onde interesses eleitorais quase sempre se sobrepõem a práticas republicanas, é elogiável que os governos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Tarcísio de Freitas (Republicanos), possíveis adversários em 2026, tenham chegado a um bom termo.
Em linhas gerais, o plano de reassentamento das cerca de 800 famílias prevê R$ 250 mil para a compra de um imóvel e auxílio moradia provisório no valor de R$ 1.200 (este em colaboração com a prefeitura). O governo estadual pretende criar um parque no terreno, cuja posse é federal.
Vale observar, entretanto, que os esforços estaduais para a remoção da favela —que amargou fracassos em sucessivas gestões— coincidem com o plano de Tarcísio de transferir para perto dali grande parte de sua estrutura de governo, inclusive seu gabinete, com o objetivo de fomentar a revitalização da região central.
E coincide, também, com nova investida, numa parceria com o prefeito Ricardo Nunes (MDB), de dispersão e pulverização da cracolândia, que atua nas redondezas e é sabidamente abastecida por traficantes do Moinho.
Não menos relevantes, as pressões do mercado imobiliário são evidentes diante das prometidas intervenções estatais e da infraestrutura urbana já existente, como estações de trem e metrô.
É inquestionável a necessidade de oferecer moradia digna a essa comunidade, mas a metrópole, bem longe do centro, tem cerca de 500 áreas de risco com milhares de moradias em encostas sob ameaça de deslizamentos.
Em tempos de mudança climática, o futuro poderá dizer se as urgências foram devidamente consideradas pelas autoridades. Talvez já no próximo verão.
Fonte ==> Folha SP