Em um anúncio breve e pouco detalhado, o presidente Donald Trump indicou que os Estados Unidos pretendem impor tarifas de 25% sobre as importações de aço e alumínio.
A medida afeta diretamente o Brasil, segundo maior fornecedor de aço para os EUA, atrás apenas do Canadá, conforme dados do Departamento de Comércio norte-americano. Apesar de não ter mencionado o país, Trump pode impactar um mercado no qual o Brasil enviou 4,49 milhões de toneladas líquidas em 2024, um crescimento de 14,1% em relação a 2023, segundo o American Iron and Steel Institute (Instituto Americano de Ferro e Aço).
A decisão se insere na política comercial agressiva do governo Trump, especialmente contra a China. Pequim, maior produtora mundial de aço e alumínio, destina grande parte da produção ao mercado interno, mas vem buscando novos destinos para o excedente, diante de uma desaceleração econômica. O país tem se voltado para mercados como México e Canadá, que exportam parte de sua produção para os EUA. Assim, a taxação americana mira indiretamente a indústria chinesa — que reagiu de imediato. “Gostaria de enfatizar que o protecionismo não leva a lugar algum. As guerras comerciais e tarifárias não têm vencedores”, declarou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Guo Jiakun.
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, preferiu aguardar um anúncio oficial de Washington antes de comentar. Fernando Haddad, ministro da Fazenda, reiterou a postura do governo de só se manifestar perante medidas concretas.
Para o economista André Roncaglia, diretor-executivo do Brasil no Fundo Monetário Internacional (FMI), a estratégia de Trump segue o padrão de negociações comerciais agressivas do governo republicano e exigirá esforços do setor industrial brasileiro. “É uma típica estratégia de ‘inundar a área’, usada por Steve Bannon: muita notícia, muita atuação espetaculosa, gerando sinais múltiplos”, analisa, a CartaCapital. “Dado que os EUA utilizam ferramentas de Estado como instrumento de barganha, os países aguardam medidas formais para avaliar impactos e possíveis reações.”
Os efeitos da taxação para a economia brasileira, no entanto, tendem a ser limitados, segundo Roncaglia. “O valor exportado de aço e alumínio é pequeno no conjunto das exportações nacionais, reflexo da nossa desindustrialização. Como grande parte das exportações brasileiras é dominada por commodities, a participação do aço elaborado no total exportado é reduzida, tornando seu impacto geral menor.”
Se, no contexto macroeconômico, o impacto pode ser modesto, para os produtores de aço e alumínio o prejuízo pode chegar a 1,5 bilhão de dólares em receita. Ainda assim, há meios de atenuar o golpe. O Brasil conta com algumas vantagens, como a possibilidade de produzir “aço verde” com hidrogênio renovável e a busca de novos mercados. “A União Europeia pode ser um destino alternativo, embora o acordo entre Mercosul e UE não tenha se mostrado muito favorável para manufaturados brasileiros”, pondera Roncaglia.
O anúncio de Trump também traz o risco de inflação nos Estados Unidos. Se os importadores forem obrigados a pagar mais caro pelo aço e alumínio, os custos podem ser repassados ao consumidor, encarecendo produtos como automóveis e imóveis. “O impacto desse efeito inflacionário depende de como o aumento de custos se espalha pela cadeia produtiva”, afirma o economista.
Embora o Brasil não seja protagonista dessa disputa global, precisará definir posição. Retaliações equivalentes, alerta Roncaglia, podem levar a um impasse comercial que prejudica sobretudo as nações mais frágeis. O presidente Lula (PT) já cogitou taxar produtos norte-americanos, citando reciprocidade, e uma das ideias é sobretaxar plataformas digitais dos EUA. Resta saber se qualquer taxação brasileira teria caráter permanente. “Isso vai depender da diplomacia”, conclui Roncaglia.
Fonte ==> Casa Branca