O mundo do esporte testemunhou no último domingo (8) duas demonstrações de profissionalismo, resiliência e amor pela nação. Carlos Alcaraz, 22, conquistou o título de Roland Garros em uma batalha épica contra Jannik Sinner, consolidando-se como um diamante do tênis. Já em Munique, Cristiano Ronaldo, 40, liderou Portugal ao bicampeonato da Nations League contra a Espanha.
Os dois, em suas respectivas arenas, exibiram não apenas talento técnico, mas uma conexão visceral com seus ofícios e países —uma qualidade que, e digo isso com melancolia, parece estar em falta na nossa seleção brasileira de futebol. O contraste entre essas performances e a apatia que tem caracterizado o time canarinho nos últimos tempos é evidente.
Em Paris, Carlos Alcaraz não apenas venceu um torneio de Grand Slam; ele redefiniu o que significa competir no saibro de Roland Garros. O espanhol travou com Sinner uma batalha de mais de cinco horas, um confronto que testou os limites físicos e mentais de ambos. Alcaraz demonstrou uma resiliência notável, recuperando-se de um início adverso para dominar o jogo com precisão, força e determinação.
Sua vitória não foi apenas um marco pessoal, mas um momento de afirmação para o tênis espanhol, que passou a ter em Alcaraz o sucessor de lendas como Rafael Nadal. O que impressiona no jovem tenista é sua capacidade de aprender com revezes, sua dedicação incansável aos treinos e sua humildade ao enfrentar adversários de alto calibre. Ao erguer o troféu, Alcaraz não celebrava apenas sua conquista; ele honrava a bandeira espanhola.
Enquanto isso, na Alemanha, Cristiano Ronaldo ofereceu ao mundo mais um capítulo de sua carreira lendária. Aos 40 anos, o astro português continua a desafiar as expectativas, provando que o profissionalismo e a paixão podem superar as limitações impostas pelo tempo. Na final da Nations League, Ronaldo marcou o gol decisivo que levou o confronto contra a Espanha para os pênaltis, onde Portugal conquistou o título por 5 a 3.
Mesmo tendo deixado o campo lesionado, o craque permaneceu como uma figura inspiradora no banco, incentivando seus companheiros e vibrando com a vitória. Suas palavras após o jogo —”Nada é melhor do que vencer por Portugal”— sintetizam o espírito de um atleta que, mesmo com uma carreira repleta de conquistas individuais, joga com a fome e intensidade de um estreante.
Aqui surge uma questão inevitável: onde está esse mesmo fogo na seleção brasileira? O Brasil, historicamente conhecido por seu jogo bonito e eficiente, pela paixão inigualável de seus jogadores e pela conexão profunda com sua torcida, parece ter perdido parte dessa essência. A seleção atual, embora repleta de talentos individuais, frequentemente transmite a sensação de que joga por obrigação, não por amor à camisa amarela.
É difícil não sentir uma pontada de inveja —benigna, mas real— ao comparar a dedicação de Alcaraz e CR7 com a apatia que, em alguns momentos, parece dominar o esquadrão brasileiro. Nossos jogadores possuem habilidades técnicas, mas falta a eles, em muitos casos, a entrega emocional que transforma um time em símbolo nacional.
Não se trata de desmerecer, mas de refletir sobre o que impede a seleção de alcançar o mesmo nível de conexão com sua torcida e sua história. Muitos dos nossos craques parecem mais focados em construir marcas pessoais, em acumular seguidores nas redes sociais ou em cumprir contratos publicitários do que em honrar o legado de ídolos como Pelé, Zico e Romário.
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Fonte ==> Folha SP