Na semana passada, a Polônia foi alvo da mais grave violação de seu espaço aéreo desde o início da guerra na Ucrânia, quando drones russos cruzaram a fronteira em direção ao país.
Poucos dias depois, a Romênia também denunciou a entrada de um drone vindo da Rússia durante ataques contra território ucraniano. Os dois episódios, considerados deliberados, elevaram a tensão e o alerta dentro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Diante da incursão russa, o Reino Unido decidiu nesta segunda-feira (15) enviar caças Typhoon para missões de defesa aérea sobre a Polônia.
“A Rússia se comporta de forma temerária e constitui uma ameaça direta à segurança europeia”, declarou o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer. As aeronaves, que partirão da base de Coningsby, no nordeste da Inglaterra, terão apoio de aviões-tanque Voyager.
O ministro da Defesa britânico, John Healey, reforçou que a medida é parte da estratégia de dissuasão da Otan. Ele classificou as ações de Moscou como “imprudentes, perigosas e inéditas” e destacou que os caças enviados terão papel essencial para “dissuadir a agressão russa e, se necessário, defender o espaço aéreo da Otan”.
O envio dos Typhoon integra a chamada operação Sentinela Oriental, lançada oficialmente na semana passada pelo secretário-geral da Otan, Mark Rutte. A iniciativa já está em andamento e tem como objetivo reforçar a defesa do flanco leste da aliança militar, justamente após a invasão do espaço aéreo polonês por drones russos.
“A Otan está lançando a Sentinela Oriental para fortalecer ainda mais nossa postura militar ao longo de nosso flanco oriental”, disse Rutte em Bruxelas na semana passada. Segundo a aliança, a operação envolve caças, sistemas antiaéreos, tropas de apoio logístico e intercâmbio de inteligência de países como Reino Unido, França, Alemanha, Dinamarca, Holanda e Itália.
O ministro da Defesa da Polônia, Wladyslaw Kosiniak-Kamysz, confirmou que aeronaves aliadas já pousaram em bases polonesas. Ele classificou a cooperação como “impressionante” e afirmou que o episódio demonstrou a eficácia da aliança diante da “guerra híbrida que a Rússia trava todos os dias contra a segurança das famílias polonesas”.
Romênia também sob pressão
No sábado (13), a Romênia denunciou a entrada de um drone russo em seu território, obrigando a decolagem de caças F-16. O ministro da Defesa, Ionut Mosteanu, informou que os pilotos chegaram a avaliar abater o equipamento, que entrou pelo Delta do Danúbio e voltou em direção à Ucrânia.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, acusou naquele momento Moscou de ampliar deliberadamente a guerra contra países da Otan.
“Os militares russos sabem exatamente para onde seus drones são enviados e quanto tempo podem permanecer no ar. Não é acidente, nem erro. É uma expansão deliberada da guerra”, declarou.
A ministra das Relações Exteriores da Romênia, Toiu Oana, classificou a ação como “inaceitável e imprudente” e prometeu levar o caso à Assembleia Geral da ONU, além de pressionar pela adoção do 19º pacote de sanções da União Europeia contra a Rússia.
Reforço militar e civil na Europa
Os incidentes contra Romênia e Polônia aceleraram medidas em outros países da Otan. A Dinamarca anunciou nesta semana a maior aquisição de defesa de sua história: 7,7 bilhões de euros em sistemas antiaéreos europeus de longo e médio alcance, como o SAMP, NASAMS, IRIS e MICA.
“Não há nenhuma dúvida de que a situação de segurança é um desafio”, disse o ministro da Defesa, Troels Lund Poulsen, descrevendo a decisão como um “salto exponencial” na capacidade de proteção nacional.
Na França, documentos revelados pela imprensa mostraram que o governo determinou que hospitais estejam prontos até março de 2026 para atender milhares de soldados em caso de guerra de grande escala. A ministra da Saúde, Catherine Vautrin, justificou as medidas como preventivas: “É absolutamente normal que o país antecipe as crises e suas consequências”.
No Báltico, a Estônia iniciou nesta semana a construção de uma linha defensiva de 40 quilômetros de trincheiras antitanque e cerca de 600 bunkers e campos minados na fronteira com a Rússia, dentro de um plano chamado de “Linha de Defesa do Báltico”. Segundo o tenente-coronel Ainar Afanasiev, da Estônia, a estrutura busca “parar o inimigo” e ganhar tempo para uma resposta em caso de invasão.
Reação do Kremlin
A intensificação do alerta militar da Otan provocou reação imediata de Moscou. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, declarou nesta segunda-feira que a aliança “está em guerra com a Rússia”. Segundo ele, ao apoiar Kiev com recursos diretos e indiretos, os países ocidentais se envolveram “de fato” no conflito.
Apesar disso, Moscou não confirmou oficialmente a autoria dos drones que violaram os céus da Polônia e da Romênia, mas tampouco desmentiu as denúncias apresentadas por Varsóvia e Bucareste.
Enquanto a Otan reforça sua defesa, Moscou mostrou força ao abrir o exercício militar Zapad 2025, supervisionado por Vladimir Putin. O ditador russo confirmou a participação de 100 mil militares e anunciou a entrada inédita de Índia e Irã nas manobras conjuntas com Belarus.
Segundo o Ministério da Defesa russo, o exercício simula uma resposta contra “potencial agressão ao Estado da União”, aliança militar entre Moscou e Minsk. As operações incluíram lançamentos de mísseis hipersônicos Zircon, voos de bombardeiros nucleares Tu-160 e manobras perto das fronteiras com Polônia, Lituânia e Letônia.
A Índia enviou 65 militares para o treinamento, enquanto o Irã confirmou presença com tropas próprias, reforçando sua crescente cooperação militar e tecnológica com Moscou. Também participaram contingentes de Bangladesh, Burkina Faso, Congo e Mali.
O primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, alertou que um dos cenários simulava uma operação sobre o “corredor de Suwałki”, área estratégica entre Belarus e o enclave russo de Kaliningrado. Em resposta, Varsóvia mobilizou 40 mil soldados na fronteira.
O ditador de Belarus, Alexander Lukashenko, confirmou que as manobras incluíram armas nucleares táticas russas, mas disse que “não planejamos ameaçar ninguém”.
Fonte ==> Gazeta do Povo e Notícias ao Minuto