24 de abril de 2025

Pecuária no Brasil pode ultrapassar limite de emissões em mais de duas vezes, diz estudo; Greenpeace cobra regulação – Brasil de Fato

A produção de carne bovina no Brasil pode ultrapassar em mais de duas vezes o limite de emissões de gases do efeito estufa necessário para cumprir as metas ambientais estabelecidas no Acordo de Paris. A projeção é de um estudo conduzido por pesquisadoras da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), publicado na revista científica Environmental Science and Pollution Research.

Segundo a pesquisa, até 2030, o setor pecuário pode emitir entre 0,42 e 0,63 gigatonelada de dióxido de carbono equivalente, unidade que calcula o impacto dos diversos gases de efeito estufa com base em seu potencial de aquecimento. Para cumprir a meta brasileira vigente até 2024, a emissão deveria se limitar a 0,26 gigatonelada.

A meta atual está atrelada à Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), compromisso assumido por diversos países no Acordo de Paris, com o objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais.

No entanto, 2024 já entrou para a história como o primeiro ano a ultrapassar esse limite, segundo medições globais. Relatórios recentes da Organização das Nações Unidas (ONU) alertam que, mantido o ritmo atual, o aquecimento pode atingir até 2,9°C.

Sem regulação, grandes empresas ignoram limites do planeta

Para o Greenpeace Brasil, os dados reforçam a necessidade de regulação urgente do setor. Em entrevista ao Conexão Brasil, do Brasil de Fato, a porta-voz da organização Thais Bannwart destacou que os dados mostram evidências apontadas há anos pela ciência: no Brasil, a agropecuária é a principal fonte de emissões, e não a queima de combustíveis fósseis, historicamente a maior fonte global.

“Temos mais gado do que brasileiros no nosso território, é um problema grave”, aponta Bannwart. Um estudo da organização indica ainda que as emissões de metano de apenas metade do setor de carne e laticínios são tão significativas quanto as das maiores empresas de petróleo e gás do mundo. “As cinco maiores companhias de carne e laticínios emitem sozinhas mais metano do que BP, Shell, ExxonMobil, Total e Chevron juntas”, ilustra a porta-voz.

Sem uma regulação, afirma Bannwart, compromissos assumidos por grandes frigoríficos são constantemente descumpridos. “A JBS diz há quase uma década que vai garantir rastreabilidade total da cadeia, mas segue falhando, tanto no monitoramento dos fornecedores diretos quanto indiretos”, aponta Bannwart. Os fornecedores indiretos, segundo ela, são muitas vezes responsáveis por práticas ilegais, como desmatamento e violação de territórios indígenas, e repassam o gado para produtores regularizados que, por sua vez, vendem aos frigoríficos.

Maior processadora de carne do mundo, a JBS tem um plano de expansão global de 70%, o que, segundo a ativista, evidencia um modelo de negócios que ignora os limites ambientais. “Temos um modelo de produção e consumo aquém da capacidade do planeta terra de prover os serviços ecossistêmicos necessários para manter o aumento da temperatura média global em 1,5°C”, diz.

A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), marcada para acontecer no Pará em novembro deste ano é vista pela organização como uma oportunidade para colocar esse debate no centro das negociações climáticas. “As NDCs [Contribuições Nacionalmente Determinadas] não trazem metas específicas para os setores da economia que contribuem com as emissões de gases do efeito estufa. Então esperamos que, com a COP acontecendo no Brasil, possamos avançar na regulação das emissões do setor.”

Criação de gado está diretamente ligado ao desmatamento

Dados do MapBiomas indicam que, em 2023, a agropecuária foi responsável por 74% das emissões de gases do efeito estufa no país. Na série histórica, desde 1985, a pecuária responde por 88% da área desmatada na Amazônia. “Estamos cortando floresta tropical, que tem uma grande contribuição para o estoque de carbono e a regulação do clima, para cultivar gado nessas áreas”, afirma.

A ativista ressalta que a Amazônia pode atingir um ponto de “não retorno”, em que a degradação do ecossistema torna-se irreversível, caso o desmatamento continue nesse ritmo. “A floresta pode perder sua capacidade de ser sumidouro de carbono e abrigo para a biodiversidade, além de milhares de brasileiros que vivem nesses territórios”, alerta. O Greenpeace defende o desmatamento zero em todos os biomas do país.

Para ouvir e assistir

O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.



Fonte ==> Brasil de Fato

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