24 de abril de 2025

Pelé, Tostão e Rivellino ergueram império do futebol – 20/03/2025 – Praça do Leitor

Pelé, Tostão e Rivellino ergueram império do futebol - 20/03/2025 - Praça do Leitor

Havia um tempo em que o futebol brasileiro caminhava como um desfile parisiense: sem pressa, mas com a certeza de que cada passo seria memorável. O gramado era uma passarela e os jogadores, estilistas de uma arte que misturava precisão e espontaneidade. Como o corte impecável de um terno sob medida, os passes de Gérson encontravam o destino certo sem esforço aparente. Pelé, Tostão e Rivellino deslizavam pelo campo como se a bola fosse um acessório natural, um detalhe de luxo numa composição perfeita.

Aquele futebol tinha a inteligência sedutora de Cole Porter e o balanço solto de Dorival Caymmi. Era um jazz fluido, com notas que pareciam se perder no ar antes de encontrar o caminho exato para o gol. Como uma canção praieira, tinha o vagar das ondas e a certeza de que, no momento certo, explodiria em beleza. Não havia afobação, não havia pressa. O Brasil jogava como quem canta baixo, confiando que a harmonia estava ali, esperando para ser descoberta.

Era um tempo de requinte sem ostentação. Aquele futebol, como a Bossa Nova, sabia que a pausa era tão importante quanto a nota. João Gilberto revolucionou o violão ao sussurrá-lo; Gerson e Rivellino fizeram o mesmo com o passe. Tocavam curto, macio, quase tímido –e então, num instante, tudo se abria num clarão de genialidade. O adversário, confuso, já estava um passo atrás.

Havia, acima de tudo, bom gosto. Jogar bem não era apenas ganhar: era saber como ganhar. Não bastava ser eficiente, era preciso ser encantador. Como uma mesa posta com esmero, tudo tinha um propósito e uma beleza própria. Não havia exagero, mas também não havia espaço para a trivialidade. Cada jogada era um detalhe bem colocado, uma pincelada sutil que, no fim, formava uma obra-prima.

Se um dia as abelhas tirassem férias, talvez vivessem como jogava aquele Brasil: dançando no vento, experimentando a leveza, voando sem medo de errar o caminho. Porque aquele futebol não era trabalho, era liberdade. E como todo grande prato gourmet, não era apenas alimento, era experiência, era prazer. Era arte servida em noventa minutos, sem precisar de mais nada além do toque certo e do momento exato.


José Leandro Silva é aposentado e escreve de Porto Alegre (RS).

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Fonte ==> Folha SP

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