A cineasta Petra Costa, autora do celebrado “Democracia em Vertigem”, concluiu seu novo filme. Chama-se “Apocalipse nos Trópicos” e trata do crescimento das igrejas evangélicas, desembocando no bolsonarismo, para deslizar na derrota eleitoral de 2022 e nas cenas do 8 de Janeiro.
O Brasil passou por momentos apocalípticos e vai bem, obrigado. O longa-metragem estreia no Rio e em São Paulo no dia 3 de julho.
No mesmo estilo contido de seu filme anterior, Petra relembrou dias que hoje parecem esquecidos e estão encapsulados em volumes de processos sobre as tramas golpistas de 2023/2024.
Neles, projetos apocalípticos como o plano Punhal Verde Amarelo acabam reduzidos a fanfarronadas de generais palacianos. Com a colaboração de Anna Virginia Balloussier, foram entrevistados líderes evangélicos, como o pastor Silas Malafaia.
Por mais estranho que pareça, a melhor explicação para o crescimento das igrejas evangélicas veio de Lula. A última pesquisa Quaest revelou que nesse segmento o índice de reprovação de seu governo chegou a 66%. (Entre os católicos a reprovação está em 53%.)
Em 1980 os evangélicos eram 5% da população brasileira. Hoje passam de 30%. Feio e irracional, o Brasil de “Apocalipse nos Trópicos” parece ter passado. Petra Costa revisita os dias da pandemia, quando o país tinha um presidente que normalizava a morte e duvidava da eficácia das vacinas.
Como em “Democracia em Vertigem”, “Apocalipse nos Trópicos” mostra um governo desafiado e derrotado. Num caso, quem estava no palácio era Dilma Rousseff. No outro, Jair Bolsonaro, com suas incitações catastrofistas.
Colunas e Blogs
Receba no seu email uma seleção de colunas e blogs da Folha
Petra Costa foi feliz no achado do paralelo com um Apocalipse que ameaça, mas não chega.
O filme não trata do governo de Lula 3.0, mas quem for vê-lo poderá aquilatar-lhe o mérito de ter devolvido o Brasil a uma relativa normalidade. Aqui e ali estouram crises como as roubalheiras do INSS ou a trapalhada do IOF, mas a linguagem apocalíptica foi-se embora. Blindados da Marinha queimando óleo enquanto desfilavam em Brasília mostram um país jogado em crises artificiais, para nada.
Quem for ver “Apocalipse nos Trópicos” receberá a graça de poder repetir a despedida de Manuel Bandeira do beco da Lapa, onde vivia com suas tristezas e perplexidades: “Adeus para nunca mais”.
Fonte ==> Folha SP