O americano Donald Trump apresentou nesta segunda (29) um plano para encerrar os dois anos da guerra entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza. Dadas as extensas garantias à segurança de seu país, o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, que se reuniu com Trump na Casa Branca, concordou até mesmo com termos que antes rejeitara.
A paz, entretanto, dependerá da aceitação da parte omissa nesse quarto encontro entre os dois líderes em Washington. O Hamas, que governa Gaza à base de truculência desde 2006, alegou não ter sido informado sobre as condições que envolvem seu esvaziamento político e militar.
O grupo terrorista terá 72 horas, contadas a partir da adesão pública de Netanyahu ao acordo, para responder com uma ação efetiva: a devolução de reféns vivos e mortos feitos no ataque de 7 de outubro de 2023 a Israel.
A contrapartida do Estado judeu será a suspensão das operações militares em Gaza, com a posterior retirada de suas forças, e a libertação de quase 2.000 palestinos presos. Tel Aviv ainda promete ajuda humanitária e anistia aos integrantes do Hamas que depuserem armas e aceitarem a existência de Israel.
Trump disse acreditar que o Hamas aceitará o acordo, mas que, em caso contrário, Netanyahu terá seu apoio “para fazer o trabalho de destruir a ameaça”.
Seja por ambições pessoais ou convicção de que o conflito foi longe demais, como já explicitou, Trump costurou o aval das lideranças de nações árabes e muçulmanas a seu plano. Terceirizou, dessa forma, a tarefa de convencer o Hamas a dissolver-se.
Entretanto a baixa densidade dos tópicos do acordo sobre a futura governança e a reconstrução da Faixa de Gaza dá margem a potenciais recuos do Hamas e de Israel. Nesses pontos, o texto ainda é uma carta de intenções.
Não há compromisso de Israel e dos EUA de reconhecimento do Estado Palestino nem garantia de Tel Aviv de não expandir sua ocupação da Cisjordânia por meio de assentamentos.
Há exigências à Autoridade Nacional Palestina, governante da Cisjordânia, de reconhecer o Estado de Israel e reformar-se —eufemismo para combater a corrupção interna— antes de assumir a gestão temporária de Gaza.
Não é tranquilizadora a previsão de que caberá a Trump elaborar o plano de desenvolvimento do enclave, depois de sua proposta de transformá-lo em uma “Riviera do Oriente Médio”. O mesmo vale para a Força Internacional de Estabilização, a ser criada e presidida pelo republicano.
Na Casa Branca, Netanyahu afirmou ter alcançado, com Trump, “o impossível”. Até a tarde de quinta (2), porém, o plano de paz não passará de uma curta trégua, certamente bem-vinda para os palestinos famélicos e movidos, sob a mira de soldados israelenses, por uma Faixa de Gaza em ruínas. Acabar com o ódio e ressentimentos na região será tarefa de prazo muito mais longo.
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Fonte ==> Folha SP