6 de agosto de 2025

Política anti-imigração de Trump ameaça produção agrícola – 06/08/2025 – Latinoamérica21

A imagem mostra um homem falando ao microfone, com cabelo loiro e pele clara. Ao fundo, há uma pintura de um homem montado em um cavalo, em um cenário que parece ser uma paisagem. O homem em primeiro plano está vestido com um terno escuro e uma camisa branca.

Os Estados Unidos enfrentam uma decisão crucial na agricultura: importar mais trabalhadores, aumentar salários para atrair cidadãos e imigrantes legais ou importar mais alimentos. Todas as opções entram em conflito com as prioridades do governo de Donald Trump: reduzir a imigração, manter os preços baixos e limitar as importações.

O pacote legislativo sancionado em 4 de julho de 2025 destinou US$ 170 bilhões à detenção e deportação de imigrantes indocumentados, que representam mais de 40% da força de trabalho agrícola. A solução emergente é ampliar o uso do programa de vistos H‑2A para “trabalhadores convidados”, que permite estadia temporária para colheitas. Em 2023, 310 mil estrangeiros (13% dos 2,4 milhões de trabalhadores agrícolas), majoritariamente mexicanos, trabalharam com esse visto, especialmente nos estados da Califórnia, Flórida, Geórgia e Washington.

Com a redução de imigrantes indocumentados, os fazendeiros têm poucas alternativas. Poderiam aumentar salários e melhorar condições para atrair trabalhadores legais, mas isso elevaria os preços dos alimentos e incentivaria importações. Outra opção seria reduzir a mão de obra, adotando a mecanização ou cultivando produtos menos dependentes de trabalho humano, o que também levaria à necessidade de mais importações.

O governo Trump sugeriu que beneficiários do Medicaid poderiam ser motivados a trabalhar no campo para manter o seguro-saúde. Porém, quem poderia, já trabalha, mas muitos não podem por limitações físicas ou cuidados familiares. Experiências passadas com beneficiários de programas sociais e adolescentes falharam devido à dureza do trabalho agrícola. Assim, a tendência é ampliar o programa H‑2A.

Criado em 1952 e expandido em 1986, o sistema de trabalhadores convidados tornou-se pilar da agricultura. Não há limite fixo de vistos: depende das solicitações dos empregadores. Para proteger trabalhadores locais, o Departamento do Trabalho define salários mínimos elevados, de cerca de US$ 10 em Porto Rico a mais de US$ 20 na Califórnia. Os contratos incluem transporte de ida e volta e alojamento, oferecendo aos estrangeiros ganhos relativamente altos e aos fazendeiros mão de obra temporária confiável. Desde 2010, o número de vistos cresceu mais de cinco vezes.

Apesar de suas vantagens, o H‑2A traz riscos. A supervisão é falha, e já houve casos de “escravidão moderna”, como em plantações de cebolas na Geórgia em 2022. A dependência crescente substitui trabalhadores que construíram vida nos EUA por temporários vulneráveis a abusos. Para os fazendeiros, os custos logísticos e burocráticos são altos, especialmente para pequenas propriedades.

O impacto não se restringe à agricultura. Hotéis, restaurantes e setores que dependem de indocumentados podem recorrer ao programa H‑2B, limitado e sazonal. Serviços de saúde domiciliar e outros setores ainda não têm alternativa. Se milhões forem deportados, os preços de alimentos, hospedagem, cuidados e reparos subirão. A expansão dos programas de trabalhadores convidados oferece uma solução parcial, mas amplia os desafios de custo, eficiência e justiça trabalhista.



Fonte ==> Folha SP

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