14 de outubro de 2025

Por que Lula deveria escolher Jorge Messias para o Supremo – 13/10/2025 – Juliano Spyer

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Se Lula indicar Jorge Messias para a vaga de Barroso no STF, será por vínculo de confiança e afinidade ideológica. Mas o fato de ele ser evangélico é um bônus —e tem peso simbólico no campo que mais rejeita seu governo.

Nos últimos meses, o PT vem demonstrando interesse em se aproximar desse público. Lançou um curso online para capacitar parlamentares no diálogo com evangélicos, e Janja tem visitado igrejas e conversado com mulheres. São gestos de impacto modesto, vistos por muitos como eleitoreiros e oportunistas.

A indicação de Messias não redime Lula e o PT perante os evangélicos, mas tampouco pode ser classificada como oportunista. A eventual escolha está em outro patamar. Por ser jovem, ele será um cristão que poderá ocupar o cargo por décadas.

Messias é inquestionavelmente crente. É membro de uma igreja batista respeitada, tem a prática religiosa como parte central da vida e demonstra uma fé genuína.

Ele também é discreto, conciliador e comedido. E sua doutrina segue o padrão da maioria dos evangélicos: ele tem valores morais conservadores. Por isso, se o nome se confirmar, deputados e senadores cristãos que, em geral, desconfiam do PT, tenderão a defender a indicação no Congresso.

Messias “contribuirá para o Supremo ser menos progressista”, resumiu o deputado e pastor Otoni de Paula (MDB-RJ).

Há outras vantagens para Lula. Com Messias, o presidente ganha prestígio entre evangélicos moderados, grupo hoje disputado pelo bolsonarismo. E também fortalece pastores progressistas que lutam por espaço em suas comunidades de fé diante do avanço conservador.

Mas, se a escolha impactará tanto esse grupo, por que a notícia de que mais um evangélico pode chegar ao Supremo circula pouco nos grupos de WhatsApp religiosos? Porque a indicação de Messias é uma pergunta para a qual o bolsonarismo não tem resposta.

Desde que Bolsonaro se firmou como líder da direita, pastores como Silas Malafaia e Michelle Bolsonaro, entre outros, repetem que é impossível ser crente e ser de esquerda. Por ser as duas coisas, Messias demonstra que esse argumento é falso.

Evangélicos de esquerda vêm sofrendo bullying em muitas igrejas onde o bolsonarismo, mesmo minoritário, é barulhento. Os que permaneceram se sentirão mais fortes para defender suas convicções e afirmar que ser de esquerda e apoiar políticas de redução das desigualdades também pode ser um ato cristão.

Messias no STF também terá trânsito e influência para ajudar o presidente a se posicionar diante de pautas sensíveis, como o debate sobre o ensino da sexualidade nas escolas.

Por fim, a indicação neutraliza o principal gesto de Bolsonaro aos evangélicos: a escolha de André Mendonça para o STF. Nesse placar, estará 1 a 1. E ainda desmonta o argumento de que Lula e o PT perseguem cristãos ou querem fechar igrejas. É incoerente afirmar isso de um governo que escolheu um evangélico para a Corte. Analistas costumam dizer que o presidente vive uma maré de sorte. Para quem é religioso, sorte é apenas outra forma de dizer vontade de Deus. Mas Lula ainda precisa decidir.





Fonte ==> Folha SP

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