Porta-aviões orbital dos EUA alarma China e amplia risco de conflito espacial – 16/05/2025 – Igor Patrick

A imagem mostra um grande grupo de soldados em uniformes militares, organizados em várias fileiras. Eles estão olhando para a câmera, com expressões neutras. Na frente, um homem de terno azul e gravata rosa está se afastando, parcialmente fora de foco. O fundo é uma parede com um padrão discreto.

A Força Espacial dos EUA anunciou nesta semana que firmou um contrato de US$ 60 milhões com a empresa Gravitics para desenvolver um veículo orbital capaz de lançar cargas pesadas em órbita com rapidez. Chamado de “orbital carrier”, o sistema deve começar a operar em 2026 e funcionará como uma base de lançamento móvel, pronta para liberar dezenas de satélites ou sondas em poucas horas.

Mas o que poderia ser apenas uma notícia de rodapé tornou-se motivo de alarme em Pequim, cada vez mais convencida de que Washington quer agravar a militarização do espaço.

O alerta foi publicado no jornal oficial do Exército chinês, o PLA Daily. Segundo os militares, o novo projeto ameaça a estabilidade global ao permitir o envio quase instantâneo de satélites com potencial ofensivo. O espaço, afirmam, pode se tornar um campo de batalha “sob demanda”, onde armas são lançadas sem aviso e com alto grau de opacidade.

Não se trata de exagero retórico. O sistema americano foi projetado com compartimentos fechados, interfaces para armamentos e capacidade de carga de até 10 toneladas —o suficiente para mais de 150 interceptadores orbitais. Na prática, o que for colocado a bordo pode ser satélite, míssil ou ambos, e ninguém saberá até que esteja em operação.

Americanos afirmam que o programa tem caráter defensivo e serve para responder com agilidade a ameaças de outros países. O problema é que, no espaço, a linha entre defesa e ataque é tênue —e, quando se desfoca, a reação do adversário é inevitável. Esse é o dilema central: qualquer avanço de um lado, mesmo que justificado por razões estratégicas, pode ser percebido pelo outro como provocação.

A ambiguidade tecnológica piora tudo. A maioria dos sistemas espaciais é de uso dual. Um satélite pode servir tanto para observar desmatamentos quanto para rastrear alvos militares, por exemplo. O “porta-aviões orbital” dos EUA amplia essa ambiguidade num grau inédito. Seu modelo de espera e liberação rápida dá aos EUA uma capacidade de ataque ou reposicionamento sem precedentes. Do ponto de vista de qualquer outro país, isso significa imprevisibilidade absoluta, o que forçará Pequim a se preparar para o pior.

A China, que também desenvolve sua espaçonave reutilizável por meio da empreitada batizada de Shenlong, deve acelerar seus planos. A despeito do discurso oficial que prega o uso pacífico do espaço, sua prática indica outra coisa: em 2024, realizou manobras orbitais com satélites em formação de combate. O jogo é duplo —e todos os lados o jogam.

O risco é que essa dinâmica leve a uma nova corrida armamentista fora da Terra. Os EUA falam em “superioridade espacial”, a China em “paridade estratégica”, e a Rússia, isolada, ameaça com ogivas nucleares em órbita. Enquanto isso, tratados como o de 1967, que proíbe armas nucleares no espaço, tornam-se letra morta diante de tecnologias que seus autores jamais imaginaram.

A militarização do espaço não é mais hipótese, e o que está em disputa agora é o ritmo com que ela se consolida —e as regras do jogo. Nenhum país opera sem seus satélites, e tornar esse ambiente instável é arriscar uma crise global a partir de um único erro de cálculo. Programas com essa capacidade ofensiva não podem nascer sem debate, transparência ou tentativa de regulação. Caso contrário devem servir de gatilho para uma nova era de instabilidade orbital.



Fonte ==> Folha SP

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