Em sua edição de 2025, o Festival Híbrido, primeira plataforma paulistana a conectar o empreendedorismo canábico à economia verde, amplia sua atuação e se prepara para explorar um novo território: os psicodélicos. O evento acontece nos dias 16 e 17 de agosto, mais uma vez no Komplexo Tempo, em São Paulo, e terá como um de seus principais destaques o eixo psicodélico, com curadoria do jornalista e escritor Carlos Minuano — fundador da Psicodelicamente, primeira revista digital de jornalismo psicodélico do Brasil, que também estará presente com um espaço próprio e inédito no festival. Desde 2023, a publicação se tornou um blog no site de CartaCapital.
A nova proposta do Híbrido acompanha a crescente valorização das substâncias psicodélicas no cenário global, não apenas por seu potencial terapêutico, mas também por seus desdobramentos espirituais, artísticos e culturais. Pela primeira vez, o festival contará com três áreas inteiramente dedicadas ao tema: o Híbrido Talks, a galeria de arte visionária e o Salão Psicodelicamente/Híbrido.
O principal destaque é o Híbrido Talks, espaço de debates que será exclusivamente voltado ao universo psicodélico. Serão cerca de oito mesas que abordarão as relações dessas substâncias com o passado, o presente e o futuro, discutindo também suas influências nas artes, na contracultura e nos saberes tradicionais. O eixo central será o diálogo entre conhecimento ancestral indígena, usos religiosos e ciência psicodélica, com a presença de representantes de povos originários, de igrejas ayahuasqueiras, pesquisadores e estudiosos.
A segunda frente será a galeria de arte, que nesta edição terá como tema principal a arte visionária amazônica e prestará homenagem ao artista peruano Pablo Amaringo (1938–2009), referência mundial nas artes inspiradas por visões de ayahuasca. Também será lançado um chamamento para selecionar artistas plásticos, músicos, escritores e outros profissionais que trabalham com a temática psicodélica em suas obras. No eixo da pintura, os artistas escolhidos integrarão a programação da galeria.
Por fim, o evento contará com o Salão Psicodelicamente/Híbrido, o primeiro espaço de estandes dedicado exclusivamente ao universo psicodélico no Brasil. O salão será voltado a editoras, escritores, empresas e iniciativas do setor, e funcionará como uma vitrine para o público conhecer as produções editoriais, marcas e projetos mais relevantes em torno dos psicodélicos. A curadoria será feita em conjunto pela equipe do festival e pela revista Psicodelicamente.
“A ideia é ampliar o olhar sobre os psicodélicos para além do debate médico ou científico”, explica Carlos Minuano. “Estamos falando de substâncias que transformam visões de mundo, alteram estados de consciência e têm impacto profundo na cultura, na espiritualidade e na forma como nos relacionamos com a natureza e com o outro. Nosso recorte vai buscar valorizar essas múltiplas dimensões, a partir de debates com indígenas, pesquisadores, dirigentes de grupos religiosos e artistas.”
Conexão com um público diverso
“O objetivo do Festival Híbrido, na realidade, é reconhecer as intersecções dessas substâncias em todas estas áreas — e em muitas outras que as pessoas nem imaginam”, afirma Beto Lago, diretor do evento. “A normalização da informação e do diálogo público é de extrema importância neste momento em que estamos discutindo a regulamentação no mundo todo.”
O formulário para expositores já está disponível no site e no perfil do festival no Instagram (@festivalhibridosp), com condições de participação mais acessíveis do que nas edições anteriores. As inscrições vão até junho.
O festival nasceu há três anos com a proposta de ressignificar a relação cultural, ancestral e mercadológica com a cannabis no Brasil. Desde então, consolidou-se como um dos principais eventos do setor, reunindo marcas, ativistas, artistas, terapeutas e pesquisadores em torno de uma programação plural, que inclui palestras, workshops, experiências gastronômicas, desfiles, shows e exposições. Na edição de 2023, o evento movimentou mais de R$ 3 milhões em negócios.
Para Beto Lago, que também fundou o Mercado Mundo Mix, o sucesso do festival é fruto da conexão com um público diverso e em sintonia com as transformações do presente. “Sempre soubemos que olharíamos para todas as terapias alternativas sem preconceito e, por isso, queremos fortalecer a discussão sobre os psicodélicos. Vamos olhar desde o início, quando os psicodélicos já estavam presentes nas culturas tradicionais, até o presente momento, influenciado por transformações culturais, sociais e tecnológicas criadas sob a influência dessas substâncias”, afirma.
Arte visionária e a mensagem da floresta
A programação artística do Festival Híbrido também prestará homenagem a um dos maiores nomes da arte visionária amazônica: o pintor e curandeiro peruano Pablo Amaringo.
Reconhecido internacionalmente por retratar com cores vibrantes as visões provocadas pela ayahuasca, Amaringo foi um dos primeiros artistas a traduzir em imagens os universos simbólicos e espirituais acessados nas cerimônias com plantas de poder. Muito antes de a Amazônia e a ayahuasca se tornarem pautas globais, suas obras já comunicavam ao mundo a complexidade dos saberes xamânicos da floresta e a urgência de uma consciência ecológica enraizada no respeito à natureza.
Em 2024, o jornalista Carlos Minuano esteve em Pucallpa, na Amazônia peruana, visitando a casa onde Pablo viveu e trabalhou — hoje sede da escola de pintura Usko Ayar, fundada por ele em 1988 e atualmente gerida por seu filho, Juan Vásquez Amaringo. O local abriga não apenas o acervo do artista, mas também o legado de uma pedagogia visual que une arte, espiritualidade e cosmovisão amazônica.
Depois de atuar por mais de uma década como curandeiro, Amaringo iniciou sua trajetória como artista com o apoio do antropólogo colombiano Luis Eduardo Luna e do etnobotânico norte-americano Dennis McKenna. Suas telas retratam mundos interdimensionais, plantas sagradas como a ayahuasca e a chacrona, casas de ensinamento e seres espirituais que, segundo seu filho Juan, “somente os verdadeiros xamãs conseguem acessar”.
Neste mesmo ano, algumas de suas obras também integraram a exposição “Visões Xamânicas – As artes da ayahuasca na Amazônia peruana” no museu Quai Branly, em Paris, consolidando sua importância no cenário da arte visionária mundial.
A homenagem a Pablo Amaringo no Festival Híbrido reafirma a proposta do evento de valorizar as raízes ancestrais da experiência psicodélica e destacar a potência estética, simbólica e política da arte inspirada por estados expandidos de consciência. Uma entrevista completa com Juan Amaringo, além de detalhes da visita de Carlos Minuano à cidade de Pucallpa e à galeria, será publicada em breve na Psicodelicamente.
Fonte ==> Casa Branca