Passar o chapéu entre bilionários na ponta leste do estado de Nova York, no mês de agosto, é uma tradição bipartidária. Candidatos à Presidência e a cargos eletivos estaduais fazem a romaria que leva a mansões exclusivas, à beira do Atlântico.
No sábado passado um convidado ou, quem sabe, um empregado do serviço de catering, gravou a fala do suplicante da vez, o ex-governador e atual candidato a prefeito de Nova York, Andrew Cuomo.
A gravação revela o que o democrata concorrendo como independente tem negado em público: ele conta com um endosso do republicano Donald Trump para enfraquecer o candidato democrata e líder nas pesquisas, Zohran , que derrotou Cuomo na eleição primária de junho.
Política requer algum cinismo, mas o ataque de sinceridade do ex-governador, que renunciou em 2021, acusado por várias mulheres de assédio sexual, ilustra a paralisia do Partido Democrata a caminho das eleições de meio de mandato de 2026.
Os principais itens da agenda política que deu ao presidente republicano a segunda vitória têm impulsionado seu crescente declínio de popularidade. Um segredo mal guardado na crônica partidária nos EUA é o fato de que políticas descritas com desprezo como progressistas moram no coração dos que se identificam como republicanos.
Entre elas, estão o aumento do salário mínimo, a licença de trabalho remunerada, o aumento de impostos para os mais ricos e a preservação a todo custo da rede de Previdência Social.
Lá Fora
Receba no seu email uma seleção semanal com o que de mais importante aconteceu no mundo
O pacotão legislativo aprovado só com votos republicanos, no começo de julho, que vai na contramão dos anseios dos eleitores é, de longe, o mais impopular desde os anos 1990, mostra uma pesquisa da CNN. E esse período incluiu a aprovação de cortes de impostos para os ricos, em 2017, e o pacote de emergência para resgatar os bancos durante a crise dos empréstimos subprime, em 2008.
Pouco se destacou o fato de que o governador republicano do Texas, Greg Abbott, não queria convocar o voto para forçar a redistribuição de distritos eleitorais no estado, até receber um telefonema do presidente.
Foi, assim, convencido a tomar a medida excepcional, cinco anos antes da realização de um novo censo. Se o Partido Republicano tivesse confiança nas leis que passa com maioria apertada no Congresso, não teria comprado a briga para mudar as regras do jogo eleitoral, a 15 meses da votação em todo o país.
Até a política de combate à imigração, fronteira garantida de apoio do eleitor trumpista, azedou entre apoiadores do presidente, chocados com a prisão indiscriminada de trabalhadores por agentes mascarados e o transtorno resultante em atividades que dependem do trabalho imigrante, como a agricultura.
Economia e inflação, mencionadas como maior preocupação, agora lideram no declínio do presidente nas pesquisas. Não há fervor identitário que corrija o preço dos alimentos nos supermercados.
O que nos traz de volta a Nova York. Nesta cidade de maioria democrata, sede da elite financeira, um desconhecido jovem esquerdista disparou em popularidade por destacar a maior preocupação do nova-iorquino –e não é o crime, que está em baixa.
É a quase impossibilidade de conseguir um teto para morar com um salário de classe média. Aí vem um democrata da velha guarda clintoniana como Andrew Cuomo pedir apoio ao republicano impopular. Desisto.
Fonte ==> Folha SP