24 de setembro de 2025

Recursos humanos e desenvolvimento regional: o impacto da falta de profissionais qualificados no setor energético amazônico

A escassez de mão de obra qualificada no setor energético brasileiro é um problema estrutural que se intensifica nas regiões mais remotas do país. No Amazonas e em Roraima, onde unidades de extração e processamento de gás natural são responsáveis por abastecer grande parte da população, a dificuldade em encontrar profissionais preparados compromete tanto a continuidade das operações quanto o desenvolvimento econômico regional.

Dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) apontam que mais de 80% das indústrias brasileiras enfrentam dificuldades para contratar trabalhadores qualificados. No setor de óleo e gás, o desafio é ainda maior: exige-se não apenas conhecimento técnico, mas também adaptação a condições extremas, longas jornadas e trabalho em locais de acesso restrito. O resultado é um déficit que obriga empresas a buscar profissionais em outros estados, elevando custos e prolongando prazos de contratação.

A administradora e especialista em Recursos Humanos, Vivian Mesquita Viana, que atuou por quase uma década na gestão de equipes terceirizadas em unidades de petróleo e gás, vivenciou esse cenário de perto. “Em determinados projetos, era impossível preencher vagas apenas com a mão de obra local. Tivemos que trazer profissionais de outros estados em caráter emergencial, o que aumentava a complexidade logística e exigia integração rápida para que a operação não fosse comprometida”, explica.

Um dos casos mais emblemáticos foi o Polo Arara, no Amazonas, responsável por cerca de 80% do abastecimento de gás natural da região Norte. Localizado a 650 quilômetros de Manaus e acessível apenas por voos fretados, o polo exigia a contratação urgente de técnicos especializados em manutenção, operação e segurança. A dificuldade para recrutar em tempo hábil evidenciava a falta de políticas de formação voltadas especificamente para a realidade amazônica.

O impacto da escassez de profissionais qualificados vai além do setor energético. A economia regional sofre com a dependência de mão de obra externa, enquanto o potencial de geração de empregos locais não se concretiza. “Quando não conseguimos formar pessoas na própria região, deixamos de desenvolver competências que poderiam fortalecer a economia local a longo prazo”, reforça Vivian.

A questão ganha contornos nacionais quando se observa que o setor energético é estratégico para todo o país. A dependência de gás natural para abastecer indústrias e residências torna cada gargalo de contratação um risco para a estabilidade econômica. Investimentos em qualificação profissional, especialmente em estados amazônicos, poderiam reduzir custos, aumentar a eficiência das operações e gerar um ciclo virtuoso de desenvolvimento regional.

A experiência de profissionais que viveram esses desafios, como Vivian, reforça a necessidade de uma agenda integrada entre empresas, governo e instituições de ensino. Ampliar programas de capacitação em áreas técnicas e criar incentivos para fixar mão de obra qualificada no interior do Amazonas e em Roraima são medidas fundamentais para transformar a escassez em oportunidade de crescimento.

O futuro do setor energético brasileiro depende, em grande parte, da capacidade de enfrentar esse gargalo. Mais do que um problema de contratação, trata-se de um desafio de política pública e de estratégia empresarial. A qualificação de profissionais na Amazônia pode ser o diferencial que garantirá não apenas a continuidade das operações, mas também o fortalecimento econômico e social de toda a região.

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