Como resultado de um estudo dos principais eventos culturais do mapa artístico brasileiro em 2025, apresento essa retrospectiva com o propósito genuíno de iluminar não apenas os holofotes dos grandes festivais e concertos sinfônicos, mas o tecido pulsante da cena que reflete a alma diversa e resiliente da nação. Mais do que um mero calendário de datas, a proposta é desvelar as narrativas entrelaçadas das imersões mágicas da OSESP com Harry Potter, na Sinfonia Mágica à intensidade operística de Wozzeck, no fim do ano, para oferecer ao público uma lente crítica e contextual que celebre a excelência artística. Organizada mês a mês, convido o leitor a reviver um ano de muita intensidade cultural, com democratização do espetáculo global, fomentando diálogos entre tradição clássica e pulsos contemporâneos que moldaram identidades coletivas.
Janeiro
O ano iniciou com o Planeta Atlântida 2025, de 31 de janeiro a 1º de fevereiro, em Xangri-lá (RS), consolidando-se como o maior festival de música do Sul do Brasil. Reúne um público eclético com atrações nacionais e internacionais, prometendo agitação no litoral gaúcho através de shows diversificados e interações culturais. Em São Paulo, a pré-temporada da OSESP na Sala São Paulo já aquecia os ânimos com programas sinfônicos sob Thierry Fischer, preparando o terreno para uma temporada de 124 concertos.
No Theatro Municipal de São Paulo, a temporada sinfônica abriu com o tradicional concerto Viva São Paulo nos dias 24 e 25, regido por Roberto Minczuk, reunindo a Orquestra Sinfônica Municipal em obras como O Abre Alas, de Chiquinha Gonzaga, Bachianas Brasileiras n. 2, de Villa-Lobos e Alvorada de Carlos Gomes, celebrando o aniversário da capital paulista.
Fevereiro
Fevereiro pulsou com o CarnaUOL em 8 de fevereiro no Allianz Parque, São Paulo, misturando pop e eletrônico, com Christina Aguilera em sua estreia brasileira, Sean Paul e Steve Aoki. O evento pré-carnavalesco atraiu multidões ávidas por ritmos globais fusionados à energia brasileira. No mesmo mês, a I Wanna Be Tour nos dias 15 e 22, em Curitiba e São Paulo, celebrou emo, pop punk e rock alternativo, revelando lineups inéditos que reacenderam a nostalgia dos anos 2000 para fãs locais.
No Municipal, iniciou a temporada lírica com a remontagem de Il Guarany (O Guarani) de Carlos Gomes, de 15 a 25 de fevereiro, uma homenagem ao nacionalismo operístico brasileiro, reforçando o legado do compositor
Março
O Lollapalooza dominou o calendário de 28 a 30 de março no Autódromo de Interlagos, São Paulo, com Olivia Rodrigo, Alanis Morissette e Tool como atrações principais. Considerado um dos eventos mais aguardados, o festival uniu gerações em um line-up eclético, reforçando São Paulo como epicentro global de música ao vivo. Paralelamente, a OSESP avançava em sua temporada com ciclos iniciais de Tchaikovsky, incluindo a Sinfonia nº 1 – Sonhos de Inverno, cativando audiências com melodias folclóricas e introspecção.
Nos dias 28 e 29, a Orquestra Sinfônica Municipal e a Orquestra Experimental de Repertório apresentaram Leningrado sob Wagner Polistchuk, com Fairytale Poem de Sofia Gubaidulina e a Sinfonia Leningrad de Dmitri Shostakovich, evocando temas de totalitarismo e resistência.
Abril
Abril trouxe calmaria relativa após o frenesi do Lollapalooza, mas a OSESP manteve o ímpeto com programas dedicados a Richard Strauss e convidados internacionais, totalizando mais de 50 artistas na temporada. A Sala São Paulo vibrou com recitais solo e de câmara, destacando a projeção da OSESP para o cenário mundial. No Rio de Janeiro, feiras culturais como precursoras da Bienal de Arte emergiram, sinalizando um ano robusto para artes visuais integradas à música.
Maio
O C6 Fest, de 22 a 25 de maio no Parque Ibirapuera, São Paulo, misturou rock, jazz, MPB e pop com Wilco, Nile Rodgers & Chic, Pretenders e Seu Jorge. Esse evento eclético celebrou a diversidade sonora brasileira em um espaço icônico. Ademais, o Bangers Open Air, no Memorial da América Latina, focou em heavy metal, atraindo headbangers e consolidando nichos metaleiros. A OSESP prosseguiu com sinfonias de Tchaikovsky, como a nº 5, cujo tema recorrente hipnotizou plateias.
Don Giovanni, de Mozart, brilhou de 2 a 10 de maio, com regência de Roberto Minczuk e direção cênica de Hugo Possolo, explorando o libreto de Lorenzo da Ponte em uma produção inovadora dos Parlapatões. Paralelamente, o Balé da Cidade estreou Requiem SP com Requiem de György Ligeti, unindo orquestra, Coral Paulistano e regência de Maíra Ferreira, além de Novas Criações com coreografias de Rafaela Sahyoun e Michelle Moura de 23 de maio a 1º de junho
Junho
Junho destacou-se por concertos isolados e a continuidade da Temporada OSESP 2025, com 27 programas sinfônicos e cinco do Coro a capella. Thierry Fischer regeu 34 eventos, incluindo obras de influência folclórica que dialogaram com tradições brasileiras. Shows internacionais como rumores de Shakira e Sting, confirmados em agendas semestrais, animaram capitais como Rio e Belo Horizonte, ampliando o alcance pop.
Julho
No meio do ano, destacam-se a Companhia de Dança Deborah Colker e a maestra Alondra de la Parra em The Silence of Sound. Esses espetáculos fundiram música clássica e movimento corporal, inovando na Sala São Paulo. Festivais regionais, como preparativos para o segundo semestre, incluíram Twenty One Pilots em turnês confirmadas, energizando o circuito nacional.
Agosto
Agosto preparou o terreno para o outono festivo com a Bienal de São Paulo estendendo-se além do habitual por um mês extra, integrando música experimental a instalações visuais. A OSESP avançava rumo ao Festival da Criança, com a São Paulo Companhia de Dança sob Zoe Zeniodi. Rumores de Coldplay e Oasis agitavam fóruns culturais, prenunciando retornos épicos.
Um dos picos do ano ocorreu nos dias 22 e 23 com Alexander Nevsky, unindo Orquestra Sinfônica Municipal, Coro Lírico e regência de Roberto Minczuk à projeção do filme de Eisenstein com trilha de Prokofiev ao vivo, dirigida por Carla Camurati. O Balé da Cidade remontou Fôlego de Cristian Duarte e Bioglomerata de Rafaela Sahyoun de 14 a 17, com orquestra ao vivo. No dia 7, Identidade Brasileira na Sala do Conservatório trouxe nº 2 de Francisco Mignone e Quarteto de Cordas de Clorinda Rosato pelo Quarteto da Cidade. Dia 3 viu Ricochetes com Concerto Triplo para Ping-Pong de Andy Akiho e estreia de Alexandre Lunsqui.
Setembro
Setembro explodiu com o The Town 2025 nos dias 6, 7, 12, 13 e 14 no Autódromo de Interlagos, São Paulo, rivalizando o Lollapalooza em escala. Simultaneamente, o Coala Festival de 5 a 7 de setembro no Memorial da América Latina celebrou música brasileira com Liniker e novos talentos. Em Belém, o Amazônia Para Sempre homenageou cultura amazônica, unindo música e preservação ambiental.
Outubro
Outubro brilhou com o Festival da Criança da OSESP, apresentando a Sinfonia Mágica dedicada às trilhas de Harry Potter compostas por John Williams. Na Sala São Paulo, a orquestra transportou famílias ao mundo mágico, com concertos inteiramente imersivos que lotaram a casa e encantaram gerações. Essa série reforçou o papel educativo da OSESP, mesclando clássico contemporâneo e pop culture.
Novembro
Novembro viu a consolidação de ciclos sinfônicos da OSESP, com a Sinfonia n. 6 “Patética” de Tchaikovsky, cujo final tranquilo provocou reflexões profundas no público. A temporada acumularia 124 apresentações, destacando a utopia da Sala São Paulo como polo musical. Shows como o retorno do Oasis, aguardado há anos, eclodiram em São Paulo, marcando reencontros históricos.
No Municipal, Les Indes Galantes, ópera-ballet de Rameau, encerrou a temporada lírica de 26 de novembro a 4 de dezembro, com luxo barroco e coreografias que celebraram o exotismo colonial. Dia 13 trouxe Requiem Sem Palavras com Quarteto de Cordas n. 2 de Almeida Prado pelo Quarteto da Cidade.
Dezembro
O ano fechou com a performance de Wozzeck pela OSESP na Sala São Paulo, uma ópera intensa de Alban Berg que explorou temas sombrios com maestria regida por Thierry Fischer. Esse espetáculo coroou a temporada, unindo coro, orquestra e solistas em uma narrativa visceral. Festivais de fim de ano, como edições menores do Planeta Atlântida, e retrospectivas como a Musical 2025 no Instagram, recapitulando tendências globais e locais, selaram um 2025 vibrante.
No Theatro Municipal, o mês celebrou os 190 anos de Saint-Saëns no dia 21 com Paz na Terra (Oratório de Natal), além de Mahler: Ode à Natureza, com Sinfonia n. 3, de Gustav Mahler regida por Maíra Ferreira, e Porgy and Bess, Macbeth e dobradinha de Puccini-Strauss integrados à reta final da temporada.
Essa retrospectiva, em linhas gerais, captura a amplitude do mapa artístico-cultural brasileiro em 2025, especialmente na Música, arte sobre a qual mais nos debruçamos por aqui. Com acesso cada vez mais democrático aos melhores palcos, 2025 se consolida como um ano ímpar na retomada dos projetos culturais brasileiros. O ano reforçou o Brasil como potência cultural, equilibrando tradição e inovação, o que evidencia a necessidade e a possibilidade do desenho de uma agenda cultural pulsante e inclusiva da mais variada gama de manifestações culturais.
Em 2025, o mapa artístico brasileiro revelou um público ávido por espetáculos de boa qualidade, demonstrando que a excelência cultural transcende barreiras econômicas e geográficas, lotando arenas como o Autódromo de Interlagos no Lollapalooza e a Sala São Paulo nas imersivas Sinfonia Mágica de Harry Potter e a visceral Wozzeck, da OSESP. Essa ânsia por produções refinadas, evidentes nos 124 concertos sinfônicos e festivais ecléticos como The Town e C6 Fest, reflete uma maturidade coletiva que valoriza não apenas o entretenimento efêmero, mas experiências transformadoras que unem gerações em torno de sinfonias clássicas, pop global e fusões inovadoras. Assim, o ano consagra o Brasil como epicentro de uma cena vibrante, onde o interesse genuíno por qualidade impulsiona investimentos contínuos e inspira criadores a elevar padrões artísticos para públicos cada vez mais exigentes e engajados.


