10 de junho de 2025

Salgado levou grandes temas a um público amplo – 23/05/2025 – Opinião

Um homem de cabelo calvo e pele clara está em primeiro plano, com uma expressão pensativa. Ele usa uma camisa cinza e um colete escuro. Ao fundo, há uma grande fotografia em preto e branco de uma paisagem com vegetação densa. O ambiente parece ser uma galeria de arte ou uma exposição fotográfica, com outras imagens visíveis ao fundo.

Poucos fotógrafos merecem o rótulo de um dos mais importantes da história, e ainda mais raras são as pessoas que discordam de que a definição cabe a Sebastião Salgado, brasileiro morto nesta sexta-feira (23), aos 81 anos.

Profissionais longevos se encontram com certa frequência, mas é incomum encontrar nomes que tenham aliado a extensa trajetória a um alto nível de qualidade durante toda a carreira. “Gênesis”, trabalho no qual Salgado documentou povos e lugares quase intocados, foi lançado quando ele já contava 69 anos.

“Gênesis”, aliás, espelha características cruciais da obra do brasileiro. Para criá-lo, ele viajou por quase uma década, um período longo concentrado em apenas uma série, como fez muitas outras vezes. Daí vem o amplo volume de imagens que produziu, resultando em livros grandiosos.

Naquela obra já estava consolidada a ideia de abordar temas de relevo da humanidade, como a preservação do ambiente, fruto da mente de um economista de viés social, e a questão indígena, tão cara a ele nos últimos anos.

Entram nessa classificação os clássicos “Terra”, “Êxodos”, “Outras Américas” e “Serra Pelada”, talvez o auge da trajetória de Salgado, ao juntar a crítica social tão marcada em seu trabalho com a dramaticidade impressa em cenas nas quais homens sujos de lama se parecem com formigas na imensidão da mina de ouro.

O preto e branco carregado de suas fotografias o ajudou a atingir um grande público com temas por vezes difíceis de digerir. Tinha a habilidade de fazer o observador se sentir tocado pela força estética dos registros, que em sua maioria retratavam pessoas e, sobretudo, a condição humana.

Alimentava também a idealização do fotógrafo explorador, que vai a locais remotos e traz de lá o que ninguém havia visto.

A longevidade conectada à excelência o fez experimentar novos formatos no final da carreira, como em uma série publicada pela Folha, na amazônia, em que levou um fundo infinito gigante à floresta para fazer retratos de indígenas nos moldes de fotografias de família realizadas dentro de estúdios no século 19.

Vasta, a obra de Salgado ainda abriga fotos históricas que não integram séries pensadas, como na que captou o atentado ao presidente americano Ronald Reagan, em 1981. As imagens que fez da Revolução dos Cravos, exibidas em 2024 em São Paulo, mostram que seu arquivo ainda possui material pouco conhecido.

Salgado conseguiu falar a muitos sobre temas políticos complexos —e ainda os deslumbrou.

editoriais@grupofolha.com.br



Fonte ==> Folha SP

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