Enquanto a Casa Branca mantém portas fechadas para negociações diretas com o Brasil, Donald Trump vem anunciando uma série de acordos comerciais com outros países, como Japão e União Europeia.
Ele também segue conversando com China e Índia, economias que aumentaram sua relevância nos últimos anos, e ontem sinalizou tarifas de até 20% para muitos países —ante os 50% prometidos para o Brasil.
Após algumas bravatas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra Trump para faturar politicamente com o episódio, o Brasil passou a atuar de forma mais pragmática, procurando o diálogo e enviando o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, para os Estados Unidos.
De todo modo, é Trump quem tem se mantido irredutível até o momento após impor como condição para negociar, de forma inaceitável e absurda, o encerramento do processo judicial contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por tentativa de golpe contra as instituições democráticas.
Além de colocar os Estados Unidos na posição de chantagista contra uma nação soberana e que tem, inclusive, situação comercial deficitária em relação a seu país, Trump ignora a separação entre os Poderes no Brasil.
O episódio e a falta de abertura para o diálogo revelam os meios truculentos do republicano em um mundo cada vez mais protecionista e com pendores autoritários, fatos que deveriam estimular o Brasil a fortalecer a economia e seu poder de barganha no cenário internacional, além de sua própria democracia.
Há muito a ser feito para que o país se abra mais para o mundo, se beneficiando desse movimento. Apesar de seu tamanho, o Brasil tem participação ao redor de 1% no comércio internacional.
Na manufatura, as alíquotas médias de importação são de 12%, o dobro das mexicanas e o triplo das europeias. Também somos campeões, segundo o Banco Mundial, em barreiras não tarifárias levantadas por meio de entraves regulatórios. O expediente é aplicado a 86% do valor importado pelo Brasil, ante média de 72% de uma lista de 75 países.
Essa participação limitada nas correntes de comércio redunda em pouca inovação e competitividade frente a outras nações, tolhendo o crescimento econômico e o poder de negociação em momentos como o atual. Isso, mais a persistente crise fiscal, torna o país vulnerável e com limitada capacidade para se defender.
Mas Lula parece preso a uma lógica protecionista e a ideologias. Em meio à tentativa de aproximação com os EUA, o assessor especial do presidente para assuntos internacionais, Celso Amorim, declarou ao Financial Times que serão privilegiados laços com integrantes do Brics, o que pode soar como provocação a Trump, crítico ao fortalecimento do bloco.
O Brasil pode perseguir isso se for do seu melhor interesse, o que é discutível, mas não deve deixar de olhar para o resto do mundo atrás de oportunidades.
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Fonte ==> Folha SP