Desde a criação do Olympia (maior campeonato do fisiculturismo mundial), ainda em 1965, nenhum homem brasileiro conquistou o título como atleta. Por outro lado, sete mulheres fisiculturistas já levaram o país ao topo do planeta (vale lembrar que a categoria feminina só foi incluída na competição em 1980). Mesmo com esses resultados, a mídia do mundo “Fitness” ainda dá mais valor aos homens do que às mulheres, segundo Alcione Barreto.
Na opinião da fisiculturista profissional, o fato de esse esporte ressaltar aspectos tratados como masculinos pela sociedade faz com que os méritos fiquem concentrados nos homens. “Você pode ver pela premiação [enquanto Samson Dauda, campeão do Olympia 2024 na categoria Men’s Open Bodybuilding, foi premiado com US$ 400 mil, Andrea Shaw, vencedora da Women’s Bodybuilding, ganhou US$ 50 mil], a diferença é absurda, mesmo com os dois sendo ‘bodybuilders’. Para um homem chegar à condição de palco, é muito mais fácil do que para uma mulher. […] A gente ainda não tem a credibilidade dos homens”, afirma a atleta da categoria Women’s Bodybuilding à coluna.
Um dos argumentos que validariam a discrepância citada, em teoria, é a venda de produtos e o alcance que os atletas têm. No entanto, Alcione enxerga essa dinâmica como um ciclo: “Falam que não é vendável. Mas não é vendável porque não é divulgado. […] O ‘hype’ que fazem para o lado masculino não é o mesmo. No feminino, eles pegam só o que está dentro do padrão da sociedade”.
“Antes de determinado atleta vender suplemento, alguma marca tem que patrociná-lo. Tem muitos que poderiam vender produtos, mas não foram descobertos por nenhuma empresa. Se ninguém falar da Women’s Bodybuilding, ninguém vai saber. Alguém conheceria a categoria Wellness, por exemplo, se a mídia não retratasse as atletas dessa categoria? A Men’s Physique, por exemplo, foi extremamente criticada quando foi criada e hoje ela é vendável, mas isso ocorreu porque houve investimento”, ressalta a atleta baiana.
Para Alcione, essa questão “melhorou pouco” desde que ela entrou no fisiculturismo, há 13 anos: “Todo mundo lembra do Ronnie Coleman [maior campeão do Olympia entre os homens, com oito vitórias], mas o pessoal de hoje não sabe quem é Iris Kyle [vencedora de dez títulos no Olympia, marca que nenhuma pessoa conseguiu atingir na história]”.
Olympia 2025
Em outubro, Alcione representará o Brasil nos palcos mais importantes do fisiculturismo mundial em Las Vegas, Nevada, Estados Unidos. A atleta conquistou sua vaga para a edição deste ano do Olympia após ter vencido o Mr. Big Evolution (também conhecido como Portugal Pro) em julho.
A fisiculturista relata que, de acordo com os juízes que arbitraram a competição, seu físico “já esta pronto para o Olympia”. A intenção, segundo a atleta, é apresentar um físico ainda maior, mas igualmente condicionado: “Apresentarei mais detalhes e mais volume, além de estar com a cabeça muito boa”.
Alcione estreou no Olympia em 2022, quando ficou com o oitavo lugar. Em 2023, ela ficou com a terceira colocação. Na edição seguinte do torneio, problemas de saúde a impediram de alcançar posições tão boas quanto nos anos anteriores.
No total, cinco quilos de massa muscular separam a versão apresentada no Olympia 2023 do físico mostrado no Portugal Pro 2025. Com o aumento de 69 kg para 74 kg, Alcione pretende superar a própria marca e integrar pelo menos as duas primeiras posições da Women’s Bodybuilding, que não mudam há três anos.
Fonte ==> Folha SP