A economia americana passa pelo choque da Trumponomics. O elemento mais saliente até o momento do tresloucado pacote de política econômica do presidente em seu segundo mandato foi uma política muito agressiva de tarifas de importação, divulgada em 2 de abril.
Após algumas dúvidas, o consenso é que a política produzirá um choque de preços e desaceleração da atividade econômica. A forte incerteza sobre o resultado final da guerra tarifária gerará redução do investimento, que deverá diminuir a demanda.
Até o momento esses efeitos não têm sido sentidos. No primeiro trimestre, antes, portanto, da divulgação das medidas, a economia recuou 0,3%. No entanto, a queda deveu-se à forte antecipação das importações. A demanda agregada desacelerou-se de 3%, no quarto trimestre de 2024, para 2,3%, no primeiro trimestre de 2025. Ainda forte e acima do crescimento potencial da economia americana.
O acompanhamento do banco central de Atlanta, o Fed Atlanta GDPNow, com a atualização até esta sexta-feira (16), indica que, no segundo trimestre, a economia cresce em torno de 2,5%. Por ora, portanto, não há nenhuma indicação de que a desaceleração tenha chegado.
No dia 13, houve a divulgação da inflação de abril. Não ocorreram até o momento sinais claros, também, de inflação vinda pelo canal das importações. Adicionalmente, a inflação puramente de demanda parece se moderar. O item da inflação que apresenta a maior inércia, os serviços que excluem os aluguéis, rodou em 12 meses a 2,69%, 0,22 ponto percentual abaixo de março e 1,14 ponto inferior ao de fevereiro.
Sem nenhuma surpresa no mercado de trabalho —em abril os números continuavam fortes, com desemprego na casa de 4,2% e geração de 177 mil empregos—, o banco central dos EUA decidiu em sua reunião mais recente, no dia 7, manter constante a taxa básica de juros, chamada de Fed Funds Rate (FFR), no intervalo entre 4,25% e 4,5%.
A dinâmica da economia americana —e, em certa medida, da economia mundial— depende muito da solução da guerra comercial. Na segunda-feira (12), houve um forte recuo do governo americano. Decidiu-se adiar por 90 dias as novas tarifas. Vejamos o que virá em três meses.
Minha avaliação é que houve um erro de cálculo um tanto quanto primário pelo governo americano. Baseando-se em modelos sofisticados de comércio internacional, que apontavam perdas de bem-estar muito menores para os EUA do que para a China, caso houvesse uma guerra tarifária, os estrategistas de Trump avaliaram que tinham maior poder de barganha. Erraram em um detalhe importante: Trump tem eleições em um ano e meio. O mesmo não ocorre para a liderança chinesa. A capacidade de um autocrata impor perdas para seus cidadãos é muito maior do que em democracias. Penso que essa barganha os EUA já perderam, e Trump simplesmente busca uma forma de parecer que se saiu bem.
Mesmo que haja recuo, tudo sugere que o melhor cenário será uma tarifa de 10% sobre as importações, o que representa forte elevação relativamente ao status quo prévio.
O banco central americano deve esperar mais tempo para avaliar os impactos da guerra tarifária sobre a economia. O bom ritmo da atividade e do mercado de trabalho retira pressão sobre o Comitê de Política Monetária do Fed, conhecido por Fomc, de retomar o ciclo de queda de juros. Por enquanto, o comitê avalia a evolução dos eventos.
Fonte ==> Folha SP