VÁRIOS AUTORES (nomes ao final do texto)
No dia 8 de fevereiro, esta Folha publicou em sua versão online a reportagem “Ganho acima da inflação no Judiciário extrapola várias vezes o do funcionalismo”; no dia seguinte, foi estampada na Primeira Página da edição dominical impressa. Esta não é a primeira vez que o jornal aborda a questão salarial no Judiciário brasileiro.
Entretanto, assim como em outras ocasiões, a Folha comete o erro de generalizar, colocando todos os servidores no mesmo “balaio”. Essa abordagem é preocupante, pois ignora as profundas diferenças salariais existentes no Judiciário.
A reportagem induz o leitor a acreditar que todos os trabalhadores do Judiciário desfrutam de salários exorbitantes, complementados por “penduricalhos” e reajustes acima da inflação, o que não corresponde à realidade. Embora uma parcela de privilegiados receba remunerações elevadas, por vezes alcançando cifras milionárias, a imensa maioria dos servidores, incluindo os do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), enfrenta um cenário bem diferente.
Em tempos de inflação crescente e desvalorização da moeda, escreventes técnicos, oficiais de justiça, assistentes sociais, psicólogos, contadores e agentes judiciários do maior Tribunal de Justiça do mundo em número de processos recebem salários que, em muitos casos, mal suprem as necessidades básicas.
Atualmente, os servidores do TJ-SP enfrentam uma defasagem salarial aproximada de 30%, o que significa a perda de um terço do poder aquisitivo.
Além do salário-base, esses servidores têm direito a poucos auxílios —e que estão longe de serem os chamados “penduricalhos”. É fundamental destacar que, mesmo quando recebem reposição salarial, os reajustes raramente acompanham a inflação acumulada. Deve-se ressaltar ainda que, durante o período pandêmico, os servidores tiveram seus salários congelados.
Não por acaso, muitos servidores estão endividados, com suas margens de crédito consignado totalmente comprometidas —uma clara consequência da política de desvalorização e do descaso com essa categoria.
O jornal não apenas pode como deve falar sobre os “supersalários” no Judiciário e em outros órgãos públicos. No entanto, tem o dever de adotar uma postura mais responsável e transparente ao abordar essa questão, distinguindo claramente as diferentes categorias e expondo a realidade enfrentada pela maioria dos servidores. São esses profissionais que, com dedicação, mantêm o Judiciário funcionando de maneira eficiente e justa.
A publicação de informações precisas sobre os vencimentos deve refletir a realidade, evitando desinformação, confusão e preconceitos. O compromisso com a verdade deve ser uma regra no jornalismo.
Por essa razão, as entidades de classe dos servidores do Judiciário de São Paulo repudiam veementemente a narrativa adotada pela Folha e esperam que, a partir deste episódio, o jornal reveja sua abordagem, denunciando as distorções salariais, mas sem prejudicar aqueles que não têm responsabilidade pelas desigualdades existentes.
Ednaldo Aparecido Batista
Apatej
Cassio Ramalho do Prado
Aojesp
Maricler Real
Aasptj
Adolfo Benedetti Neto
Assojuris/Sinjuris
José Gozze
Assetj
Helen Patricia Merim
SindUni
Nilma Isabel Ribeiro
Ajesp
* As entidades de classe Affocos, Assojubs, Sintrajus, Exefe, Assisjesp, Asserjud e Affi subscrevem este artigo
TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.
Fonte ==> Folha SP