20 de março de 2025

Teólogo conservador defende que Deus aprova o casamento gay – 20/01/2025 – Juliano Spyer

Teólogo conservador defende que Deus aprova o casamento gay - 20/01/2025 - Juliano Spyer

Relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo não são pecado. A afirmação veio do teólogo Richard Hays, autor de um dos livros mais influentes no campo protestante nos Estados Unidos e anteriormente conhecido por condenar a homoafetividade.

Hays faleceu no início deste ano, após anos de luta contra um câncer. O obituário publicado no New York Times ajuda a compreender como e por que ele mudou de perspectiva em relação a um dos temas mais delicados para cristãos conservadores.

Seu livro “The Moral Vision of the New Testament” (A Visão Moral do Novo Testamento, 1996) foi uma referência para gerações de cristãos refletirem sobre o tema. Pastores frequentemente citam trechos bíblicos analisados por Hays para justificar a ideia de que relacionamentos com pessoas do mesmo sexo são pecado.

Até agora, quem discorda dessa interpretação faz isso argumentando que a Bíblia foi escrita em outros tempos, para outras audiências. Mas essa linha de pensamento não avança; a pessoa que defende essa posição é chamada de herege por sugerir que a Bíblia seja imperfeita. Foi o que aconteceu há poucos anos no caso que levou ao cancelamento do pastor Ed René Kivitz aqui no Brasil.

Hays, no entanto, seguiu um caminho surpreendente. No livro “The Widening of God’s Mercy” (A Ampliação da Misericórdia de Deus, 2024), escrito com seu filho, Christopher, ele defende que é Deus quem está em constante mudança e que hoje, a partir do Novo Testamento, pessoas LGBT são “plenamente incluídas” e devem poder se casar.

Em entrevista ao New York Times publicada em novembro, Hays explicou seu raciocínio. A mudança divina, segundo ele, pode ser observada quando a Bíblia é lida como uma narrativa completa.

O Deus retratado no início da Bíblia muda ao longo da leitura. Na medida em que a narrativa avança, a graça e a misericórdia expandem-se para incluir grupos antes rejeitados. “Vemos Deus como uma entidade dinâmica e pessoal… há mudanças e adaptações na forma como Deus se relaciona com os seres humanos”, afirmou.

A reflexão proposta por Hays está ao alcance da maioria dos evangélicos. Até os anos 1990, a mesma Bíblia era usada para condenar pastores divorciados. Poucas décadas depois, é relativamente comum encontrar pastores que se separaram mais de uma vez. A graça se expande.

O livro de Hays de 1996, tão aplaudido e citado por conservadores, já representava um avanço dentro das igrejas. Em vez de condenar, ele reconhecia que orientação sexual não é uma opção e defendia que gays e lésbicas assumidos fossem membros das igrejas, desde que permanecessem celibatários.

Um dos momentos que mais me marcaram no ano passado aconteceu durante um culto na Cidade de Refúgio, uma igreja afirmativa criada para a comunidade LGBT. Fui a convite junto com um pastor de uma igreja tradicional, que ficou encantado. “Esse é o ensinamento de Jesus”, ele comentou. “E nós temos expulsado essas pessoas das nossas congregações.”



Fonte ==> Folha SP

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