São Paulo
Foram longos dois anos e dois meses de espera pela terceira temporada de “The White Lotus”. Estamos apenas no segundo episódio, e um rápido assalto foi o evento mais importante até agora. Mas já foi tempo suficiente para nos apaixonarmos por cada neurótico naquele resort da Tailândia –e para ter certeza que o produtor Mike White vai entregar outra vez uma história regada a sarcasmo pesado e um bocado de surpresas.
Nós somos como aqueles macaquinhos que aparecem toda hora, contemplando a miséria humana do alto das árvores. Mais do que todo mundo, eles parecem saber que o ser humano é uma criatura patética e sem salvação. Mas que pelo menos dá para rir dessa miséria toda.
O bom de “The White Lotus” é que ela nunca pode ser acusada de explorar só o lado exótico dos lugares em que a história se passa –acusação que fez do filme “Emília Perez”, por exemplo, um saco de pancadas.
Pelo simples motivo de que a série é isso mesmo: um bando de turistas, a maioria americanos, que não estão nem aí para a cultura local e só ficam felizes se os nativos oferecem o maior número de clichês a eles.
E talvez seja esse mesmo o grande encanto da coisa. Se 99% das produções rezam pela cartilha “woke”, dando lições de moral e bom comportamento ao espectador, esta lembra que, quando estamos apenas em família ou entre amigos, não tem como conter nosso lado mais intolerante, mesquinho, cruel. Como Molière e Shakespeare sempre souberam, a melhor comédia não é feita em cima das nossas virtudes, mas dos nossos piores defeitos.
Neste segundo episódio, quase todos os personagens ganharam massagens tailandesas, sessões de meditação ou algo que o valha. Mas o efeito benéfico não durou nem cinco minutos depois das sessões, e já estava todo mundo estressado de novo.
Já está difícil decidir de qual núcleo a gente gosta mais –ou qual tem mais potencial de transformar uma viagem paradisíaca num inferno sem precedentes. Temos uma mãe viciada em remédios que pensa que “atriz é tudo prostituta”, um marido prestes a encarar cadeia por fraude e um filho mais velho completamente boçal.
Ou as três amigas que não viajam juntas há muitos anos e não perdem uma chance de falar mal uma da outra. Ou ainda a moça simpática que aguenta um namorado rabugento, grosseiro e com algum mistério na manga.
Como nas melhores novelas, não estamos com muita pressa para ver o caldo entornar. Os personagens já nos cativaram nas primeiras cenas e iremos com eles até o fim, esperando sempre o pior. Ah, claro… e ainda vamos a uma praia paradisíaca da Tailândia toda semana sem gastar um centavo. Como não amar?
Fonte ==> Folha SP e Globo