Eu contei: 100% das edições impressas desta Folha nos dias úteis da última semana tiveram o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na manchete. Da taxação do aço à partilha da Ucrânia, passando pela tarifa do etanol, suas atitudes mereceram topo de página e letras garrafais.
O destaque é mais do que justificado. É impossível e pouco recomendável ignorar o elefante branco (ou alaranjado) no centro da sala da economia global. Os grandes investidores, entretanto, já começam a sopesar os exageros midiáticos típicos de Trump ao definir suas estratégias. E o desempenho da nossa Bolsa é a prova disso.
Nesta semana, enquanto os sinais que vinham dos EUA prenunciavam grave crise para nosso mercado, com siderúrgicas na mira, o Ibovespa, nosso principal indicador, conseguiu subir quase 3%. No olho do furacão, Usiminas e Gerdau viram suas ações subirem 7,5% e 3,2%, respectivamente. Os papéis da CSN não conseguiram tal proeza, mas ficaram praticamente no zero a zero, com leve queda de 0,1%.
A complexidade da realidade impede que causa e efeito sejam creditados a apenas uma variável, claro. Mas a mudança na credibilidade dos estridentes anúncios da Casa Branca precisa entrar na conta. Ouvi de um grande banqueiro brasileiro que, agora, a agenda “pró-business” e de aquecimento da economia de Trump, com anúncio de desregulamentações e cortes de imposto, tem surtido mais efeitos práticos do que suas erráticas guerras comerciais.
Por aqui, esse jogo tem servido para desvalorizar o dólar frente ao real. A incerteza em relação aos próximos passos de Trump não agradam, tirando valor do dólar (finalmente abaixo dos R$ 5,70), tornando nossos juros de dois dígitos, apesar dos pesares, uma opção viável para investidores em busca de retorno.
A fotografia é essa. O filme ainda tem muito suspense. Como me confidenciou a economista-chefe de um grande banco, também nessa semana, “a previsão do boletim Focus de que teremos o dólar a R$ 6 no fim do ano só mostra que ninguém tem ideia do que vai acontecer”.
Enquanto o foco permanece no mercado americano, a China busca manter seu crescimento a todo custo. Em janeiro, os bancos chineses, atendendo a pedidos do governo, concederam um volume recorde de empréstimos –cerca de US$ 703 bilhões–, muito acima das projeções dos analistas.
Aqui, foi dada a largada para a “temporada de balanços” das empresas da Bolsa. Os números concretos começam a provar a resiliência das empresas, frente aos desafios.
O Itaú, maior banco do país, registrou um lucro recorde de R$ 40,23 bilhões em 2024. A Multiplan, gigante dos shopping centers, conseguiu lucrar R$ 1,3 bilhão, um aumento de 31,4% em relação a 2023. Isso em um ano marcado por juros altíssimos e fortes incertezas.
Em tempos de tantos ruídos de informação, os números ajudam a entender melhor o cenário e as oportunidades dele. Esperar o momento ideal da política global e local, bem como da economia, para investir pode afastar suas mãos de alguns bons ganhos e dividendos.
Fonte ==> Folha SP