30 de outubro de 2025

Trump elimina ‘tarifas do fentanil’ contra China e começa a aliviar medidas da sua própria guerra tarifária — Brasil de Fato

Os presidentes Xi Jinping e Donald Trump se reuniram na manhã desta quinta-feira (30) durante uma hora e meia em Busan, Coreia do Sul. Os mandatários se reencontraram após seis anos da última reunião, e acordaram a redução das medidas que afetaram o comércio desde o início, como consequência da política de tarifaço imposta pela administração de Donald Trump.

O acordo, negociado anteriormente pelas delegações dos dois países na Malásia, trouxe a eliminação de tarifas específicas e a suspensão por um ano de diversas restrições comerciais entre China e Estados Unidos.

O Ministério do Comércio da República Popular da China divulgou, após finalizado o encontro presidencial, um comunicado detalhando os acordos alcançados.

Segundo a nota oficial, os Estados Unidos eliminarão a tarifa adicional de 10% imposta sobre produtos chineses sob alegação de combate ao fentanil, conhecida como “tarifa do fentanil“. Ao mesmo tempo, Washington vai manter suspensa, por mais um ano, a tarifa recíproca de 24% sobre mercadorias da China, Hong Kong e Macau. Em contrapartida, Pequim ajustará suas medidas de retaliação comercial na mesma proporção.

A China vai suspender por 12 meses medidas equivalentes implementadas em 9 de outubro, segundo o comunicado ministerial. Embora o comunicado não detalha, as medidas anunciadas nesse dia foram os controles de exportação relativos às tecnologias de terras raras do Ministério do Comércio.

Trump celebrou enfaticamente o acordo em publicação na rede Truth Social durante o voo de retorno aos Estados Unidos. “Fiquei extremamente honrado pelo fato de o presidente Xi ter autorizado a China a começar a compra de quantidades massivas de soja, sorgo e outros produtos agrícolas”, escreveu o presidente estadunidense. “Nossos agricultores ficarão muito felizes!”.

O lado chinês não mencionou nenhum compromisso de compra massiva de bens agrícolas, apenas o “consenso sobre questões como (…) expansão do comércio agrícola”.

É possível que a redução de algumas das tarifas retaliatórias da China, resulte na retomada de compra de produtos agrícolas estadunidenses.

Embora Trump celebre como vitória, a crise no agronegócio sojeiro dos Estados Unidos, foi gerada pelas próprias políticas comerciais do governo norte-americano. Após os Estados Unidos imporem tarifas sobre produtos chineses, Pequim retaliou com tarifas sobre produtos agrícolas estadunidenses, tornando-os mais caros para importadores chineses.

Como resultado, a China passou a importar soja principalmente do Brasil e da Argentina, redirecionando fluxos comerciais que antes beneficiavam produtores estadunidenses.

O pacote de acordos inclui a suspensão temporária da regra de penetração de 50% sobre controles de exportação estadunidense, anunciada em 29 de setembro.

A regra de penetração de 50% sobre controles de exportação, que havia sido anunciada pelos Estados Unidos em 29 de setembro, estende restrições comerciais a qualquer entidade que seja detida, direta ou indiretamente, em 50% ou mais por empresas incluídas na Lista de Entidades do governo estadunidense. Na prática, a medida amplia significativamente o alcance das sanções, atingindo subsidiárias e empresas controladas por entidades já sancionadas, mesmo que essas subsidiárias não estejam explicitamente listadas, expandindo o escopo das restrições comerciais impostas por Washington.

Essa regra pode ter servido de incentivo para a intervenção feita pelo governo dos Países Baixos na Nexperia. Os controles de exportação relativos ao setor de terras raras da China haviam sido implementados como resposta a essa regra.

Washington também interromperá por um ano as investigações do Artigo 301 sobre os setores marítimo, logístico e de construção naval chineses. Pequim responderá com a suspensão de contramedidas impostas às empresas estadunidenses nessas áreas. Ambos os países concordaram ainda em prorrogar algumas exclusões tarifárias existentes.

China quer estabilidade

“Diante dos ventos, das ondas e dos desafios, você e eu, no comando das relações China-EUA, devemos manter o rumo, navegar por essa paisagem complexa e garantir o progresso constante do grande navio das relações China-EUA”, disse Xi a Trump.

Xi disse que é normal que as duas maiores economias mundiais enfrentem atritos ocasionais devido a diferentes condições nacionais, mas defendeu que China e Estados Unidos “são plenamente capazes de ajudarem-se mutuamente a ter sucesso e prosperar juntos”.

O acordo inclui compromissos chineses de manter o fornecimento aberto de terras raras, minerais críticos e ímãs, insumos essenciais para indústrias de tecnologia e defesa estadunidenses. Pequim também se comprometeu a intensificar esforços conjuntos no combate ao tráfico de fentanil para território estadunidense, questão que Trump havia usado como justificativa para a imposição da tarifa de 10% agora eliminada.

O presidente dos EUA disse que discutiu a possível aquisição chinesa de energia dos Estados Unidos: “Uma transação em larga escala poderá ocorrer relacionada à compra de petróleo e gás do Grande Estado do Alasca”, disse Trump em uma publicação em sua rede social.

O comunicado do Ministério do Comércio chinês confirmou acordos anteriores alcançados em Madri sobre questões de investimento e indicou que China e Estados Unidos trabalharão para resolver pendências relacionadas ao TikTok.

Xi Jinping ressaltou que o desenvolvimento chinês e a agenda de Trump de “tornar os EUA grandes novamente” não são incompatíveis. “Os dois países são plenamente capazes de ajudarem-se mutuamente a ter sucesso e prosperar juntos. China e EUA devem ser parceiros e amigos”, declarou o presidente chinês.

O líder chinês também destacou disposição para cooperação em questões regionais sensíveis. “O mundo de hoje enfrenta muitos problemas difíceis. China e EUA podem assumir juntos suas responsabilidades como grandes países e trabalhar de mão dada para levar a bom término mais empresas grandiosas, concretas e boas”, afirmou Xi.

O Ministério do Comércio chinês enfatizou que os resultados das consultas de Kuala Lumpur demonstram que “através do diálogo e cooperação no espírito de igualdade, respeito e reciprocidade, é possível encontrar soluções para os problemas”. O ministério expressou expectativa de que ambos os países implementem adequadamente os acordos, “injetando mais certeza e estabilidade na cooperação econômica e comercial sino-estadunidense e na economia mundial”.

A suspensão das medidas tarifárias tem prazo de 12 meses, com revisão prevista pelas equipes técnicas de ambos os países ao final desse período.

Ameaça nuclear

Apesar do tom de cordialidade e acordo, poucas horas antes do encontro, Trump anunciou em suas redes sociais que os Estados Unidos retomaram testes de armas nucleares. “A Rússia está em segundo lugar e a China em um distante terceiro, mas estarão empatadas dentro de 5 anos. Por causa dos programas de testes de outros países, instruí o Departamento de Guerra a começar a testar nossas armas nucleares”, publicou o presidente estadunidense, afirmando que o processo começará imediatamente.



Fonte ==> Brasil de Fato

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