Ao surgir em 1980, o Partido dos Trabalhadores distinguiu-se das agremiações tradicionais da história brasileira, em particular da oposição consentida pela ditadura militar agônica de então. De saída, fez da disputa interna entre correntes diversas, ainda que sempre à esquerda, uma marca.
A democracia partidária, todavia, subordinou-se à realidade do poder. Em seu primeiro grande teste, a prefeitura paulistana conquistada em 1988, o assembleísmo petista resultou em balbúrdia administrativa.
Figura de proa da legenda desde a origem, Luiz Inácio Lula da Silva sempre buscou impor sua vontade aos correligionários. Ao chegar à Presidência da República, vencendo o pleito de 2002, sacramentou seu “diktat” —do qual decorreram cismas, como aquele em que foi criado o PSOL.
No maior revés de sua história, o processo que levou ao impeachment de Dilma Rousseff, o PT se viu ainda mais dependente do comandante. O período em que Lula ficou preso aprofundou o caráter messiânico de sua liderança.
De 2017 até março deste ano, o PT foi presidido por Gleisi Hoffmann, sob a bênção lulista. Hoje ministra das Relações Institucionais, ela dava vazão às insatisfações do partido com a política econômica de Fernando Haddad —nada que seja estranho ao estilo do presidente em terceiro mandato de gerir partido e governo.
Com a vacância no comando petista, foi aberta a campanha que acaba com o pleito deste domingo (6). Lula ungiu Edinho Silva para o cargo, com algum dissenso na forma da candidatura do ex-chefe da sigla Rui Falcão.
Demais nomes na disputa, Romênio Pereira e Valter Pomar, são a concessão usual às alas radicais. A disputa interna, como não poderia deixar de ser, foi tomada por ataques à política econômica.
Na semana derradeira da refrega, os adversários de Edinho assinaram carta conjunta pedindo mobilização popular contra os juros do Banco Central e a maioria conservadora do Congresso Nacional.
O favorito na eleição tem a reputação de moderado, pelos padrões petistas. É Lula, no entanto, quem hoje ensaia tomar o rumo da radicalização.
Acossado pela impopularidade e pela dificuldade de governar, expressa na crise do IOF, o cacique petista recorreu ao usual “nós contra eles”, desta vez propagando que a culpa pelos problemas do país é de um conluio entre parlamentares à direita e super-ricos avessos a impostos.
Edinho, até aqui, não deu sinais de adesão ao confronto, seja com outras forças políticas, seja com a política de Haddad —quando muito, defendeu corretamente a revisão de isenções tributárias e fez uma proposta exótica de novo cálculo da inflação para permitir a queda dos juros.
Se não será capaz de renovar o ideário do PT, sua gestão poderia, na melhor hipótese, contribuir para a pacificação de relações com os demais partidos. Será preciso, entretanto, combinar primeiro com Lula.
Fonte ==> Folha SP