Criador da APEX e referência no comércio exterior, executivo defende reestruturação urgente do sistema e alerta: “Assassinaram o potencial exportador do Brasil.”
Durante as comemorações dos 75 anos da Federação das Câmaras de Comércio Exterior (FCCE), o vice-presidente da entidade, Roberto de Arruda Nóbrega, fez um diagnóstico contundente sobre o atual cenário do comércio exterior brasileiro.
Com quase cinco décadas de experiência no setor, o executivo propôs a criação de um banco nacional especializado em exportações, afirmando que essa seria a base para recolocar o Brasil como protagonista no comércio global.
“Nós não temos um banco de comércio exterior. Isso é ponto fundamental. O BNDES é apenas uma carteira dentro de uma instituição maior. Precisamos de algo estruturado, dedicado e tecnicamente preparado para apoiar as exportações brasileiras”, defendeu Nóbrega.
Um retrato do retrocesso: “Assassinaram o comércio exterior brasileiro”
Com uma carreira iniciada em 1975, Nóbrega ingressou na FCCE em 2000, após organizar o primeiro seminário Brasil-África no tradicional Hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro.
Sua trajetória inclui a presidência da Câmara de Comércio Brasil-Índia, período em que o comércio bilateral entre os dois países cresceu de forma expressiva.
Durante a entrevista, Nóbrega foi enfático ao criticar o desmonte das estruturas de apoio às exportações promovido por decisões políticas passadas.
“Infelizmente tivemos presidentes que acabaram, assassinaram o nosso comércio exterior”, afirmou, citando o fechamento da COBEC (Companhia Brasileira de Comércio Exterior) durante o governo José Sarney como um dos maiores erros estratégicos da história recente.
A estatal, então vinculada ao Banco do Brasil, operava com armazéns próprios em Roterdã, Nova Jersey e na Nigéria, país onde o executivo atuou como diretor.
🇮🇳 Brasil e Índia: caminhos opostos no comércio global
Ao comparar a trajetória brasileira com a da Índia, Nóbrega destacou que enquanto o Brasil dissolvia suas instituições, o país asiático fortaleceu suas tradings estatais, como a State Trade Corporation (STC) e a Mineral Metal Trade Corporation (MMTC), esta última listada na Bolsa de Bombaim.
“Enquanto a Índia dá passos lá na frente, o Brasil volta para trás”, lamentou.
Foi também durante uma visita à Índia, em 1996, que Nóbrega sugeriu ao então presidente Fernando Henrique Cardoso a criação de uma agência de promoção de exportações, ideia que deu origem à APEX Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) — hoje uma das principais instituições de apoio à internacionalização de empresas nacionais.
Formação profissional e lacunas educacionais
Além das críticas às estruturas institucionais, Nóbrega apontou a falta de preparo técnico dos profissionais brasileiros como um dos principais gargalos para o desenvolvimento do setor.
Para ele, o país carece de uma formação prática e moderna em comércio exterior.
“Tem que aprender comércio exterior. A maioria das faculdades forma diplomatas, não profissionais prontos para os desafios do mercado internacional”, criticou.
Em resposta a esse cenário, o executivo criou o programa educativo “Comércio Exterior em Foco”, disponível no Instagram, onde já publicou oito episódios com análises e lições baseadas em sua vivência.
O projeto busca preencher a lacuna deixada desde o fim do histórico programa “Brasil Exportação”, da TV Bandeirantes, extinto na década de 1990.
Experiência internacional e lições de campo

A trajetória de Roberto Nóbrega inclui mais de dez visitas à Índia e um período de um ano na Nigéria, onde dirigiu operações da COBEC.
Durante sua gestão na Câmara Brasil-Índia, o comércio bilateral atingiu novos patamares, comprovando o potencial das parcerias bem estruturadas entre países emergentes.
Ele também relembra propostas visionárias, como a importação de medicamentos genéricos indianos para reduzir custos no Brasil, e alerta para o atraso no setor aeroespacial nacional após o acidente de Alcântara, em contraste com o avanço da Índia — hoje referência mundial na área.
FCCE e Nóbrega: 75 anos de história e visão de futuro
A Federação das Câmaras de Comércio Exterior (FCCE) celebra 75 anos de fundação, coincidindo com a idade do próprio Nóbrega, que ingressou na entidade há mais de duas décadas.
Durante o evento comemorativo, o executivo destacou o papel vital das câmaras de comércio como portas de entrada do Brasil para o mundo e reforçou a necessidade de reconstruir estruturas sólidas de apoio às exportações.
“Eu só falo quem sabe”, declarou, resumindo suas cinco décadas de experiência prática e o compromisso com a formação de novas gerações de profissionais que possam resgatar o protagonismo brasileiro no comércio internacional.
Um plano estratégico para o futuro
As propostas de Roberto Nóbrega convergem em três pilares:
1️⃣ Criação de um banco especializado em comércio exterior, com foco em crédito e infraestrutura internacional.
2️⃣ Reforço na formação técnica e comportamental de profissionais da área, por meio de programas educacionais modernos.
3️⃣ Reestruturação das instituições de apoio ao exportador, garantindo continuidade, eficiência e visão de longo prazo.
Sua experiência e liderança na FCCE, somadas à contribuição histórica na criação da APEX, reforçam o papel de Nóbrega como uma das vozes mais influentes do comércio exterior brasileiro — e um defensor incansável da reconstrução do setor.
Roberto de Arruda Nóbrega
Vice-presidente da Federação das Câmaras de Comércio Exterior (FCCE)
Criador da APEX Brasil | Ex-diretor da COBEC | Ex-presidente da Câmara Brasil-Índia
Apresentador do programa “Comércio Exterior em Foco” (Instagram)
Rio de Janeiro – Brasil


