11 de setembro de 2025

Vinho do Porto: três erros que arruínam a bebida – 10/09/2025 – Isabelle Moreira Lima

A imagem mostra uma garrafa de vinho tinto ao lado de duas taças de vinho vazias. O fundo é iluminado com luzes quentes, criando um ambiente aconchegante. A superfície onde os objetos estão apoiados é escura e reflexiva.

Um vinho único no mundo, cheio de história, que cativou nações, que vem da primeira denominação de origem demarcada do mundo e… que hoje quase ninguém entende direito, pouca gente bebe, está ficando no passado. Falo do vinho do Porto, cuja demarcação data exatos 269 anos nesta semana, em 10 de setembro, na região do Douro, Portugal.

Meu palpite é que fazemos tudo errado. Ou melhor, o tratamos mal. Topa fazer um teste? Quando você provou essa bebida pela última vez, onde ela foi servida? Um pequeno cálice ou copinho de cachaça? Erro número um: neste recipiente, as notas aromáticas, que podem ser de fruta exuberante, de caramelo, de nozes e amêndoas ou tantas outras, ficam aprisionadas e não se nota muito. Melhor usar uma taça. Há um modelo próprio para o vinho do Porto, semelhante à taça ISO, mas uma taça de vinho branco ou mesmo a universal darão conta do recado.

Continuando o teste: onde estava a garrafa, no armário junto aos destilados? Erro número dois: devemos beber o vinho do Porto resfriado, e não à temperatura ambiente, assim a doçura fica mais equilibrada com todos os outros elementos e bebê-lo fica ainda mais prazeroso (e menos licoroso).

E, por fim, há quanto tempo essa garrafa de Porto estava aberta? Erro número três: por mais que seja tratado como um licor ou um destilado, o vinho do Porto é vinho e deve ser tratado como tal. Dura mais que uma garrafa de tinto, mas menos que um uísque. Cada estilo tem uma validade —8 a 10 dias no caso dos Ruby, o estilo mais frutado, e 3 a 4 semanas no caso dos Tawny, o mais caramelado.

O vinho do Porto é uma bebida excelente para acompanhar sobremesa, o Ruby casa perfeitamente com chocolate e frutas vermelhas; já o Tawny vai bem com a doceria conventual, baunilha, cremes de toda a sorte, queijos. E, ainda, se você não quer chafurdar tanto assim, uma taça pode ser a própria sobremesa.

Subindo na escala de valores e complexidade, o vinho do Porto vai ficando cada vez mais específico e rico e capaz de envelhecer (bem) e trazer novas informação por anos, décadas e até séculos. Sou prova viva disso, já provei uma garrafa de 1860, cuja acidez fez com que o especialista que conduzia a degustação dissesse, como conclusão, “está pronto para beber”.

Isso por dois motivos: o vinho do Porto foi feito para durar; é um vinho, como se gosta de dizer hoje, resiliente. Seu nascimento data do século 17, quando importações de bebidas francesas pela Inglaterra estavam proibidas por motivos de guerra. Os ingleses, que naquela época estavam longe de produzir vinho, acharam em Portugal, no Douro, um tinto adstringente e concentrado que os agradava, mas que não resistia bem à longa viagem. O jeito foi estudar métodos de conservação, como a adição de aguardente para estabilizar a bebida antes da viagem.

A história conta que, em 1678, o filho de um comerciante de Liverpool encontrou uma vinícola de frades cistercienses que adicionava a aguardente durante a fermentação, o que matava as leveduras ativas antes que todo o açúcar fosse transformado em álcool, preservando o caráter doce do vinho. Mas, na década de 1730, adições extras de açúcar e de sucos de frutas colocaram em risco a reputação do Porto, o que levou à demarcação em 1756 da região e dos métodos de produção do vinho do Porto pelo Marquês de Pombal.

O segundo motivo da resiliência é a acidez. Com grande amplitude térmica, ventos e altitude, os vinhos feitos em boa parte do Douro são marcados pelo frescor. E frescor significa longevidade: por isso mesmo vinhos feitos com a riesling e alvarinho, castas de acidez marcada, são brancos que duram décadas.

Agora, se nada disso te animou a experimentar uma taça, dou a dose derradeira: pegue um copo alto, jogue umas duas ou três pedras de gelo nele, uma dose de Porto branco, uma rodela de laranja, complete com tônica e um ramo de alecrim. Nada melhor para as tardes em que o sol resolve se mostrar. Aposto que até os jovens vão pirar nesse tipo de Porto.

Vai uma taça?

Se você gostou da ideia de um portônica, o Porto Ceremony Dry White (R$ 93 na Vino Mundi) dá conta do recado. Como porta de entrada, dois grandes produtores em supermercados: o caramelado Taylor’s Tawny (R$ 149 no Pão de Açúcar) e o Ruby Ferreira (R$ 129 no St. Marché).

Anote na agenda

Para quem ama vinhos franceses, a dica é comprar ingressos para a Foire Aux Vins, feira da Chez France, que traz 24 produtores a São Paulo no dia 4/10. Ingressos no Sympla.



Fonte ==> Folha SP

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