Virginia Fonseca é uma gênia. Quando a influenciadora mandou um animado “bora pra cima” logo no início de seu depoimento na CPI das Bets, metade de mim se espantou com o deboche —a outra reconheceu o talento. Não pelo conteúdo, mas pela leitura precisa de cena. Com moletom fofo, estampado com o rosto de uma das filhas, e óculos para compor o visual de adolescente nerd, ela entendeu melhor do que qualquer assessor parlamentar o roteiro daquela audiência.
Virginia não desrespeitou a instituição —apenas traduziu, com perfeição, o papel que ela vem escolhendo representar. A sessão já nasceu com cara de meme, mas conseguiu cair ainda mais no ridículo. O senador Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG) interrompeu a audiência para gravar um vídeo com a investigada. “É pra minha mulher e minha filha”, justificou, como se estivesse em um camarim e não em uma Comissão Parlamentar de Inquérito. Soraya Thronicke (Podemos-MS) prometeu seguir Virginia nas redes, o que soou menos como ameaça e mais como agrado ao fã-clube da influenciadora.
Pausa para o story. Play na vergonha. Não era um podcast. Não era uma coletiva. Era o Congresso Nacional que dizia estar ali para investigar o impacto dos jogos em cidadãos viciados, famílias endividadas. Mas, diante da câmera e da loira com aparência infantilizada, o Senado virou plateia. O problema não está só na convocada, com ar blasé, que manipula sua audiência —mas nos parlamentares que tratam uma tragédia social com displicência.
Da sessão, não saiu nenhum dado relevante, nenhuma cobrança firme, nenhum constrangimento real a uma pessoa que vende ilusão em troca de milhões. Apenas a confirmação de que o Congresso virou um palco —e, seus membros, coadjuvantes de um espetáculo inútil.
A CPI das Bets parece não buscar respostas, mas audiência. No final, é possível que não produza o relatório robusto que se espera. E, se produzir, talvez ninguém mais leve a sério. Quanto à Virginia, é uma gênia: fez o que já faz todo dia: vender a si mesma. E, dessa vez, com plateia oficial.
Fonte ==> Folha SP