27 de junho de 2025

No Rio há um lugar sem farmácias (acredite!) e sem remédio – 27/06/2025 – Alvaro Costa e Silva

No Rio há um lugar sem farmácias (acredite!) e sem remédio - 27/06/2025 - Alvaro Costa e Silva

Quem anda pelo centro do Rio não vê fantasmas, mas quase. Esbarra-se em placas de vende-se e aluga-se. Boa parte dos imóveis vazios era ocupada por instituições financeiras. Mais de 160 bancos e agências fecharam as portas.

Na zona sul da cidade, há mais farmácias que padarias (o placar atual é 425 contra 380). No centro, onde não há gente nas ruas, as farmácias sumiram, as padarias desapareceram. Não é fácil encontrar um supermercado. Uma banca de jornal, um cabeleireiro, uma loja de celulares, uma casa de sucos, um boteco com cafezinho no balcão, um mísero armarinho.

Em algumas ruas e praças, o movimento é maior nos fins de semana —com a visita aos museus e o sucesso das rodas de samba— que nos dias úteis. A rua da Carioca, cujo comércio foi destruído pela especulação imobiliária, virou passarela para instalação de choperias chiques.

A prefeitura lançou um projeto para recuperar imóveis com risco de cair. Centenas de construções serão identificadas, desapropriadas, leiloadas e reformadas pela iniciativa privada a partir de um subsídio concedido pelo município no valor de R$ 3.212 por metro quadrado. A torcida é que não leve tanto tempo quanto a restauração de dois prédios históricos na rua do Passeio —a Escola de Música da UFRJ, casarão de 1841, e a antiga sede do Automóvel Club, em estilo belle époque—, que estão abandonados.

Não se pode dizer que o Reviver Centro —programa que teve início em 2021, ano em que tudo piorou— promove a gentrificação. Não ocorre um deslocamento de moradores pela simples razão de que não há moradores para se deslocar. E a chegada significativa de novos residentes, como se previa, não aconteceu.

O modelo que prevalece em prédios retrofitados é o do aluguel por temporada. São estúdios de 20 metros quadrados, explorados por fundos de previdência privada, de investimentos, de pessoas jurídicas, que contratam empresas especializadas em gerir as unidades. Sem vida e gente, o centro é um bom lugar para investir e especular.



Fonte ==> Folha SP

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