No nosso país, construído sobre os escombros da escravidão e moldado na indiferença e desvalor do respeito às pessoas por suas diferenças sociais, econômicas, culturais, religiosas, de cor, raça, gênero e origem geográfica, a luta para alcançar e garantir o tratamento igualitário nunca teve trégua, e a cada progresso alcançado se impõem novos riscos e ameaças.
Apesar da luta árdua, desproporcional e renitente, injustificadamente, ainda no nosso país, o ambiente corporativo público e privado permanece excludente e marcado por práticas discriminatórias baseadas em cor, raça, identidade de gênero, orientação sexual, idade e deficiência que, no seu conjunto, se apresentam como um obstáculo intransponível para o exercício de direitos e um limitador insuperável para o alcance da satisfação, bem-estar e felicidade —como propugna o fim último da ação social e do esforço individual.
Em decorrência dessas distorções, estruturantes e estruturadas, que se reproduzem livre e acintosamente, os valores, os fundamentos, os objetivos que definem e determinam a destinação e os propósitos do nosso pacto político, em vez de viabilizar um espaço social que promova e garanta a competição justa e o acesso igualitário às oportunidades, aos benefícios e à riqueza produzida coletivamente, constrói-se um ambiente que exclui, aparta e separa, em inexplicável contradição e incompatibilidade com o desígnio de construir uma sociedade livre, justa e solidária para todos.
Diante desse quadro abominável e insustentável, somente um Estado responsável e imparcial e uma ação política e social moralmente virtuosa e verdadeiramente comprometida com os direitos humanos podem assegurar e promover os valores da diversidade e da participação e competição justa, tornando possível garantir a expressão da liberdade incondicionada de escolha e permitindo a qualquer pessoa autonomamente acessar, permanecer e transitar em qualquer espaço social e corporativo, público e privado, sem distinção de qualquer natureza.
E essa tem sido a ação do Estado e de importantes atores da sociedade civil do nosso país, que têm empenhado profundos e decisivos esforços na construção, alargamento e consolidação de espaços e ambientes onde a diversidade, a equidade e a inclusão têm se constituído em valores inderrogáveis das escolhas políticas e da decisão corporativa.
Foram as implementações dessas ações afirmativas púbicas e privadas, nos últimos 20 anos, que mudaram a fisionomia das universidades, do sistema de justiça, da comunicação e, sobretudo, do ambiente empresarial. Negros, mulheres, indígenas, portadores de deficiência, LGBTQIA+: definitivamente, saíram da invisibilidade e da exclusão para remodelarem e redemocratizarem esses espaços e ambientes, realizando profunda e poderosa mudança, cujos resultados têm transformado e aproximado o país do seu imperativo de promover a inclusão, a justiça e a igualdade.
No momento em que essas conquistas e avanços, por desonestidade ideológica ou cálculo político, estão sob ataques e ameaçadas por retrocessos e riscos de destruição, é mandatório colocar-se de pé e defender e fortalecer o acesso igualitário e imparcial a cargos e posições em empresas e instituições no Brasil. Sem racismo e sem discriminação. Assegurar a diversidade, a equidade e a inclusão é garantir a dignidade humana, o valor social do trabalho e a redução da marginalização e das desigualdades sociais e raciais, inscritas como cláusula pétrea na Constituição Federal, nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU e nos compromissos empresariais pela equidade.
Com esse propósito, estamos lançando o movimento “Diversidade, Sim!”. Convocamos a sociedade civil e o setor empresarial, público e privado, a defender, fortalecer e ampliar as políticas afirmativas de diversidade, equidade e inclusão. Nosso compromisso com a diversidade é irrevogável. A diversidade é criativa, democrática, inovadora e lucrativa. “Diversidade, Sim!”.
TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.
Fonte ==> Folha SP